O RECOMEÇO

 

 

Assim que ela percebeu o peso da solidão, fora daquele casamento que ultrapassara os vinte anos, assim como teria superado todas as expectativas de uma vida a dois, não pensou duas vezes. Deu meia volta, retrocedeu no tempo, pegou carona nos dias de felicidade que vivera ao lado dele e agarrou-se à esperança.

 

Esperança de reconquistá-lo, na certeza de que havia ainda, naquela alma irrequieta, um resquício da paixão, vivida em todo o seu esplendor. Queria recomeçar do ponto em que havia parado. Iria apagar as palavras de despedida, entregar-se àquele sentimento tão duramente esquecido nos últimos tempos de união.

 

Telefonaria, implorando a sua volta? Mandaria um e-mail, pedindo-lhe perdão, reconhecendo seu erro? Não! Iria agir da mesma forma, quando o mandou embora. Olhos nos olhos. Sem medo da rejeição.

 

Arrumou-se adequadamente para aquele que seria o recomeço de tudo. Iria alcançá-lo à saída do trabalho, o convidaria para um drinque e o amor trataria de cumprir a sua parte naquela peça escrita a quatro mãos e que ainda não tivera final.

 

Abriu a porta da sala e estarreceu-se. Lá estava ele, do outro lado, com a chave nas mãos. Na surpresa do momento, ela não sabe dizer quem abriu aquela porta; a porta do recomeço.

Apenas a lembrança de que se jogou nos braços dele, abertos para ela, como sempre havia sido - embora ela fizesse questão de não perceber – e o trouxera para dentro, para aquele que seria o recomeço de suas histórias.

 

(Milla Pereira)




Este texto faz parte do EC
"RECOMEÇO"
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