Pânico e Bar

Chegou no bar com um aspecto apresentável, com um olhar desconfiado como se pudesse encontrar em uma das mesas um franco atirador mirando o seu rosto repudiando a sua cara de síndrome do pânico.

No entanto tudo era perfeitamente natural, entrar em um bar e ver as pessoas desfrutando do divino efeito alcoólico era como flagrar uma suruba sem estar pelado.

Mirou a garrafa de destilado e decidiu dinamitar consciência, coisa inclusive muito mal vista, tanto em um bar como em uma suruba. Fez uma oração para o fígado, como se importasse, embora a petição fosse para resistir, não preservar.

Já conversava fluentemente com o garçom cubano que falava espanhol, comprovando a teoria que só não sabe falar castelhano quem não bebe tequila. Dois botões da camiseta rolavam pelo bar, estralava os dedos dançando ao som de Elis Regina. “É pau, é pedra”, sal e limão, limão e sal, perna longa ou pica pau. Em pouco tempo os tarados da balbúrdia pareciam freiras constrangidas com o nudismo de cristo.

O gelo foi quebrado quando ele convidou em gesto de cavalheirismo a “miss” da Segunda Guerra Mundial da pizzaria ao lado, um tango improvisado e então se tornou o mais popular do bar e “garoto da cueca vermelha” das velhinhas da pizzaria. Depois dessa cena, não se recordava de mais nada.

No outro dia, tinha a mesma cara de pânico ao entrar no bar, dessa vez não queria ser reconhecido.