Um Par de Tênis All Star Vermelho - Final

No dia seguinte o despertador do mecânico tocou às 6:00hs da manhã, apesar de ser Domingo. Desligou o relógio e depois quis abraçar e beijar a jovem, porém, assustou-se ao constatar que ela houvera sumido do seu lado. Levantou-se rapidamente a fim de saber se a mesma estava no banheiro. Não estava. De fato, tinha ido embora sem avisa-lo. Parecia ter fugido do local pois deixou até seus sapatos: um par de tênis All Star vermelho. Estavam encostados na parede que ficava próxima a pequena mesa de refeições. Indagou-se, então, do motivo da universitária ter ido embora às pressas e aparentemente descalça. Percorreu o quarto suscintamente e descobriu que uma das suas sandálias havainas havia sumido do móvel onde ficavam os seus calçados.

Ao constatar o sumiço da jovem, sentiu algo novo na sua alma. Algo até então inédito na sua vida: apaixonou-se violentamente. Receoso, refletiu o motivo daquela sensação: "Será que estou começando sentir o peso da idade? Afinal, já estou com 35 anos... Ou será que foi o bom desempenho dela na cama? Ô merda... só me faltava essa agora..." Disse, deitando-se novamente na sua cama. Cruzou as pernas uma sobre a outra, ainda estava nu. Seu semblante transparecia um pavor nunca antes instalado. Estava suado, apesar do ventilador estar ainda ligado. Sabia que havia sido vencido por uma universitária. Seu coração, antes desgarrado e devasso, naquele momento parecia inclinar para a sua última vítima. Era uma força maior do que seu livre arbítrio.

Contemplava o par de tênis All Star vermelho como sendo a testemunha viva da sua nova opressão. Observava o calçado como sendo algo que o lembrava de um novo mundo que poderia ser aberto com o seu sentimento; um universo que ele nunca houvera levado à sério: o casamento. Parecia que todas as dezenas de mulheres que haviam cruzado a sua vida tinham sido dissolvidas da sua mente. Havia restado apenas uma: a dona do tênis.

Portanto, sentiu a vontade angustiada de revê-la. Era ainda Domingo. Poderia fazer isso sem se prejudicar no seu trabalho. Então, levantou-se novamente, tomou um banho, vestiu-se elegantemente como de costume. Retirou da geladeira um resto de sucrilhos e devorou-o, acompanhado de um copo de leite. Pegou o par de tênis da jovem e colocou-o dentro de um saco plástico. Saiu de casa correndo, amarrou o saco no bagajeiro da moto e antes que ligasse o motor retirou da sua carteira um papel onde a moça havia anotado o telefone dela. Fez a ligação do seu celular ali mesmo, no entanto, quem atendeu foi uma amiga dela, a qual alegou que a jovem não se encontrava.

Álvaro então a explicou que queria entregar o tênis esquecido e por conseguinte precisava do endereço da jovem. A amiga prontamente deu-lhe o endereço. Empolgado, agradeceu-a, desligou o telefone e ligou a moto. Queria descobrir onde a moça morava a fim de posteriormente lhe fazer uma surpresa. Talvez presentea-la com um buquê de rosas. Não se importava com o fato da moça não estar naquele momento em casa. Ao menos sentiria o cheiro dela, conheceria as amigas da jovem, as quais dividiam o quarto. Dessa forma, demonstraria a sua intenção de iniciar um namoro sério com ela.

Chegou ao destino e logo recebeu o primeiro choque: era o endereço de uma boate noturna, uma casa de shows eróticos. Encostou a moto no meio fio que ficava de frente a fachada do edifício e releu novamente o endereço. Julgava que havia se enganado, mas era ali mesmo, estava escrito no papel. Desesperado, ligou novamente para o mesmo telefone. E novamente a amiga atendeu e confirmou o endereço. Agradeceu, estacionou a moto, adentrou o recinto e foi logo recebido por uma bela jovem morena . Afirmou que era a mesma do telefone. Álvaro entregou-lhe o par de sapatos e numa curiosidade quase assassina indagou o que a jovem fazia ali, se era garçonete, balconista, caixa ou coisa parecida. A morena sorriu, ao mesmo tempo em que dava um sinal de negativo com a cabeça, e impiedosamente disse:

- Não, não, meu bem, ela é dançarina e prostituta.

Então Álvaro saiu dali mergulhado em lágrimas. E naquela mesma semana deixou seu emprego, abandonou as mulheres e tornou-se aspirante a monge beneditino em um convento próximo a sua cidade. Tudo isso porque havia descoberto que o amor não pode ser encontrado na promiscuidade. E que a própria promiscuidade havia lhe dado uma lição de vida.

Fim do Conto.

Obrigado pela leitura, caros recantistas.

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Fábio Pacheco
Enviado por Fábio Pacheco em 24/09/2006
Reeditado em 10/07/2011
Código do texto: T248569
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