" O BEIJO NA BOCA DA GARRAFA" (AUTORIA RAMON A. GARCIA)

“ O BEIJO NA BOCA DA GARRAFA” ( AUTORIA RAMON A.GARCIA)

Ela se foi depois de uma noite de amor com muito prazer,carinho,afeto e confidências. Reclamou da casa pobre de Flávio a qual não possuía sequer uma geladeira, pois a antiga estava no conserto. Bebeu água mineral na garrafa pelo gargalo,recusando um copo que julgava estar sujo.

Luísa era uma morena quarentona, bonita, sensual, doce, elegante e carente de amor físico e espiritual.

Flávio saíra às vinte e três horas de um sábado quente do outono camarada, para divertir-se no pagode da Avenida Marginal em São Paulo. Solitário, mascarando uma falsa alegria, chegara enfim ao bar de Dona Wilma, melhor “bar woman” da capital paulista. Sempre sorridente e atenciosa com todos, a dona do estabelecimento promovia pagode, executado por exímios “batuqueiros”, que enchiam de alegria e entusiasmo o ambiente frequentado por um público variado e exigente.

Flávio ao ver as mulheres sambando,notou rapiadamente os olhos castanhos,bonitos, de Luísa que o fitara com um sorriso. Os dois conversaram alegremente,ao som da percussão e cantoria do pagode. O casal, provara então, a todos os presentes, que eram pagodeiros por excelência, ao brincar e dançar ao som mágico dos instrumentos afro-brasileiros.

Uma cerveja,batatas fritas e muito papo solidificaram a união entre Luísa e Flávio. O cinquentão loiro, gordinho com o coração cheio de alegria,sentia-se como um jovem de vinte anos... Tomaram o último copo de cerveja e de mãos dadas, seguiram o destino da residência de Flávio, próxima da Avenida Marginal.

O casal entra na casa de Flávio e passa a conversar sobre suas vidas, fazendo confissões mútuas. Luísa aconselha Flávio a realizar um sonho e ir à luta de um amor perdido há trinta anos passados. Muita conversa se seguiu naquelas poucas horas. Luísa pensa em retirar-se e voltar para sua casa. Flávio, habilmente a abraça e a beija com sofreguidão e acaricia suavemente, dizendo frases de carinho sedutoras.

Luísa faminta de amor cede e os dois se amam sobre o assoalho sem tapete da casa do jovem senhor. O desejo dela tão forte, não resistiu às tentações e ela amou Flávio de uma forma até mesmo original!

O amor físico e espiritual entre ambos, durou várias horas. Entre beijos, abraços e gemidos o feliz casal se realizara completamente. Luísa cansada pede água gelada a Flávio. Este,constrangido diz que o refrigerador está no conserto... A bela mulher reclama e o cinquentão fica sem resposta. Mesmo assim, a mulher bebe pela boca da garrafa para aliviar sua sede, deixando a marca do batom no gargalo de plástico.

Os dois se vestem e tomam um táxi que os leva até a casa de Luísa na Lapa.

Depois das despedidas e beijo afetuosos, Flávio dirige-se para sua casa. Chegando lá,cansado de tanto amar, toma a água mineral que sobrou no vasilhame.

Sente um gosto e cheiro especiais na boca da garrafa. A marca do batom de Luísa ainda estava lá... Batom ótimo, de perfume e gosto agradáveis. Flávio com saudade dela, beija a boca da garrafa,sente o cheiro deixado pela bela mulher e sonha com a volta de sua amada..

Nota da Recantista: Conto escrito por meu pai Ramon A Garcia, em novembro de 1994. No próximo dia 09 de junho completar-se-ão dez anos de seu passamento. Estou postando este texto como forma de homenageá-lo. Se vivo estivesse,certamente integraria a linda e harmoniosa família Recantista... Em sua vida profissional, foi jornalista (áreas econômica e política)e gostava de redigir crônicas, contos e artigos para distrair-se...

Papai,neste mundo beatífico, que agora é sua morada receba meu abraço e carinho...

Que Jesus o abençoe, INFINITAMENTE!!!!!!!!!

Sua filha,Ivoninha

07.06.10