Bem-te-vi

Um coral de pássaros acorda-me todas as manhãs. No canto traz a previsão do tempo. A cigarra inicia com solo demorando horas; enquanto os demais fazem o contra canto. O bem-te-vi com sua parceira têm uma participação especial, ao término saem a chamar os demais. O João de barro aproveita o espetáculo e constrói sua casinha onde habitará sua cria. Da minha janela observo-os. Somente o beija-flor tem a ousadia de vir beijar minhas florzinhas, os demais pássaros permanecem em seus papeis.

Em um desses dias, sentada em minha sala relendo alguns poemas um dos pássaros pousou na cadeira ao meu lado. Olhei. Fiquei intacta. Imaginei que ao menor movimento ele esvoaçaria. Continuei a ler onde uma das estrofes dizia:

"A primeira vez. Senti meu coração como um pássaro

capturado. A primeira vez. O seu canto vez me cantar."

Olhei. Lá continuava o pássaro ouvindo meus poemas. Continuei lendo, lendo como se estivesse cantando. Tinha receio que ao término da leitura o pássaro voasse saindo pela janela. Tal minha surpresa que ao término da leitura; o pássaro procura um raio de sol que invadia minha mesa, entoando uma canção que meus ouvidos jamais ouviram quando ele no palco.

Observava. Quieta. Intacta. Respiração pausada. Que fazer! Decidi apenas observá-lo. Ao término o pássaro pousou em meu ombro. Mumifiquei-me. Não, não iria conseguir ficar todo o tempo estátua; movimentei-me, ele acompanhou-me. Fiz todos os movimentos possíveis ele continuou em meu ombro. Percebi que ele decidira ser sua minha casa, como fizera o João de barro durante a melodia. Durante todas as estações o pássaro tem cantatas retornando ao lar trazendo as novas que cantou e encantou.