TARIFADO

Em um terreiro como os terreiros daqui. Em Brasil como esse daqui.

- Mãinha, tô precisada de sua ajuda!

- Pois desembuche, mizi-filha!

- Então mãinha...tô numa aflição,acho que é olho gordo que tem nos meus caminhos, tá me dando uma gastura, vai mãe joga os búzios e vê o que aparece no meu destino!

- Suncê me adesculpá mizi-filha, mas eu me aposentei...

- Como assim, a senhora se aposentou?

- Como quase todo mundo minha filha, já tô com quase oitenta anos e benzo nesse terreiro desde os dezessete , só tava esperando outra mãe-de-santo naiscê e fica pronta prá assumir o meu lugar.

- e quem é a nova mãe-de-santo do terreiro, mãinha?

- Cê conhece, é a Lalá de Iansã, mas no momento ela também não pode lhe ajudar minha filha, ela e o Tunico do atabaque tiraram trinta dias de férias, tão prá voltar por esses dias.

- E o irmão do Tunico, o Janjão? Nunca mais o vi, por onde ele anda?

- Ah, esse tá muito bem, agora é funcionário do SCB!

- SCB?

- É, o sindicato do Candomblé brasileiro.

- E a senhora mãe...mesmo “aposentada” continua aqui no terreiro?

- Bom minha filha é o quê eu gosto de fazer, e só com o dinheiro da aposentadoria não dá! Então eu arranjei essa boquinha no setor de informações.

- Mas como eu vou saber quando a mãe Lalá vai voltar, se...

- Ah é fácil! Cê liga prá esse zero oitocentos nesse cartão e se informa.

- Hum, então tá, agolê e benção mãinha, eu tenho que ir e...

- Ei espera aí! Suncê vai sair sem pagar?

- Mas pagar o quê? A informação não é de graça?

- Pelo zero oitocentos é sim, mas aqui no terreiro é tarifado...é tarifado!

Paxeco
Enviado por Paxeco em 04/08/2009
Reeditado em 10/02/2014
Código do texto: T1735982
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