CONVERSA DE PESCADOR = A VINGANÇA DA SEREIA =EC

A família foi passar as férias na praia, Ramiro, a esposa, os filhos, os cunhados, os sobrinhos, a sogra.

Ramiro foi logo dizendo:

- Vou contratar um barqueiro para pescar á noite em alto mar.

A esposa preocupada:

- Será que não é perigoso?

O cunhado brincalhão:

- O único perigo é ele ser raptado por uma sereia.

A cunhada:

- Oba! Vamos comer peixe “pescado”!

A sogra destila uma gota de veneno:

- Só se rabo de sereia for comestível.

As crianças em coro:

- Posso ir também?

Os adultos em coro

- Não!

E lá se foi o Ramiro atrás do barqueiro com o devido barco e apetrechos de pesca.

Celestino era pescador e mediante certa importância, não muito pequena, levava os turistas para pescar em “alto mar”.

A noite estava perfeita! Lua cheia, céu salpicado de estrelas, temperatura agradável.

O pescador era falante. Contou casos e mais casos, mentiras, verdades ou meias verdades, o amigo que encontrou uma pedra preciosa dentro de um peixe, o peixe tão grande que não cabia no barco e teve que ser devolvido ao mar e por ai afora.

E veio então o mais intrigante, a historia da Sereia.

“Yara era casada com um pescador. Os dois eram felizes juntos até o dia em que ele convidou-a para fazer um passeio de barco, romântico, numa noite de lua cheia. Tudo ia às mil maravilhas, até que ele confessou seu verdadeiro intento. Estava apaixonado por outra mulher e ia matá-la para poder casar-se com a outra. Dizendo isso jogou-a no mar e retornou contando para todos que ela caíra acidentalmente do barco. Mas, Yara não queria morrer e invocou todos os deuses e todos os demônios para que a salvassem da morte. Queria continuar viva com um único objetivo, vingar-se do marido. Um bruxo atendeu seu pedido, mas só que ela teria que continuar vivendo no mar e para tanto tinha que aceitar que suas pernas fossem trocadas por um rabo de peixe.Yara aceitou. Aceitaria qualquer coisa para ter uma chance de vingar-se do traidor.”

- Muito interessante essa lenda!

- Mas isto não é uma lenda. A sereia Yara é o maior perigo no mar, pois ela estendeu seu ódio a todos os pescadores supondo que eles estavam protegendo a infidelidade de seu marido e, com sua cauda imensa dá rabanadas nos barcos e muitas vezes consegue afundá-los.

Ramiro começa a sentir-se desconfortável. Aquele mar imenso e aterrador. Ouvia ruídos estranhos reais e imaginários e já estava arrependido de ter inventado aquela pescaria absurda.

O barqueiro percebeu seu mal estar e brincou com ele:

- O doutor está com medo?

- Não..... Imagine....

De repente ele ouve um som estranho, como que uma música macabra e o barco começou a balançar.

Não conseguiu disfarçar o susto.

- Calma, amigo, ela ainda está longe e quando chegar eu sei como enfrentá-la. Já fiz isso outras vezes.

Tudo se acalma, volta o silêncio e Ramiro procura concentrar-se na pescaria, mas não consegue.

O ruído do mar lhe parece trazer vozes ameaçadoras e o balanço natural do barco o assusta.

- Estou com uma terrível dor de cabeça, acho melhor voltar.

- Como? Ainda não são nem oito horas. Se desistir vai perder o que me pagou, pois o doutor sabe, eu perdi a noite...

- Não tem importância. Foi muito divertido, mas pra mim, chega!!

- O doutor é quem sabe.

Ramiro suspirou aliviado quando sentiu sob seus pés a areia da praia.

Quando chegou a casa, o bombardeio de perguntas:

- Já?

- Cadê os peixes?

- Quantas sereias pescou?

Ramiro não achou graça nas brincadeiras:

- Estou com uma terrível dor de cabeça.

- Quer um comprimido?

- Não precisa. Vou tomar um banho e dormir.

Celestino chega a sua casa e a mulher o recebe rindo:

- Foi rápido hoje, não? Foi a historia da sereia, não foi?

- Foi. É incrível como tem gente ingênua e medrosa!

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Conversa de Pescador

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Maith
Enviado por Maith em 13/07/2009
Código do texto: T1697034