Luzes da Cidade - A Menina da Livraria

Sabe uma livraria? Ultimamente, muitas tem se transformado em verdadeiras lojas de departamentos. Vendem de tudo: cds, dvds e muitas tem até cyber-café. Cyber-café que são sinônimo de tentação, misturando internet e um monte de guloseimas, convenhamos. Não é todo mundo que as freqüenta. Alguns, passam horas lá dentro; outros, vão só de passagem, antes de começar o filme no cinema ao lado; temos também os que só vão lá para comer – como os velhinhos e velhinhas que, diariamente, puxam assunto com as pobres atendentes – e os que só usam a sua entrada como ponto de referência para um encontro.

Um dia, numa sexta à noite, fui a uma livraria. É, você, caro leitor, deve estar aí ironizando assim: “programão!”. Ri, ri mesmo, verá como foi! Não, não era uma Saraiva mega-store, com tudo isso de adicional. Também não ficava dentro de um shopping e nem tinha cinema perto. Ficava na rua mesmo, na zona sul do Rio, e só tinha lá um monte de livros e algo que me encantou bem mais do que qualquer coisa que pudesse estar escrita dentro de qualquer um desses livros.

Carregando uma pilha de livros, vi uma menina morena, cabelo cacheado, com sardas e lindalinda. A antologia poética que estava nas minhas mãos não chegaria nem perto de descrevê-la, tanto que caiu no chão. Fora de brincadeira. Ela, simpática e com um sorriso igualmente lindolindo, perguntou se eu precisava de ajuda. Na verdade, eu precisava de socorro, sei lá, é normal se assustar com coisas boas? Eu disse que não, que tava tudo bem, e ela continuou com seu trabalho, enquanto meu dia tinha mudado completamente.

Eu aqui maluco por causa de alguém que nem sabe da minha existência. A menina me viu lá, lógico, ouviu a minha voz, mas com certeza já deletou. Enquanto isso, eu a coloquei na minha página principal, no meu papel de parece. Ahhh, e nem trocadilhos decentes consigo fazer... Cadê a função poética? A menina da livraria já faz parte do meu dia.

Pensa, Pensa... tenta lembrar qual era o nome dela, tava escrito no crachá! Não adianta, não lembro. Não sei quando vou à livraria de novo, fui bem por acaso naquele dia. Procurei pelo Orkut alguma comunidade de lá, mas nada. Hum... melhor quebrar a rotina e passar lá de novo qualquer dia, é o jeito.

Cheguei lá, sentei num sofá, mas, infelizmente, nem sinal dela. Droga. De repente, de presente, quem senta ao meu lado? Acho que nem precisa dizer. Não, não era o Silvio Santos, dã, era ela! Falando ao telefone, rindo, cheirosa, um livro do Shakespeare na mão. Assim que desligou o telefone, ganhei uma surpresa, um presente:

- Oi, tudo bem? Você veio aqui outro dia, né? Legal ter voltado!

Uau! Ela sabe que eu existo!

- Er... sim,tudo, e você? Voltei, sim, preciso ver umas coisas...

Na verdade, eu queria dizer que precisava vê-la. Que precisava mesmo saber o nome dela. Que precisava dela mesmo.

- O que você ta procurando? Ainda não ta no meu horário, mas eu te ajudo!

- Estou procurando... você.

- O quê?

- Ah, você me ajuda? Ótimo.

Chutei o nome de um livro bem difícil de achar, e como sabia que lá não tinha um sistema de busca pelo computador, tomei bastante do tempo dela. Tempo que ela dividia comigo, né. Convenhamos, não contavam com a minha astúcia. Já até descobri o nome dela, o nome dela, de quem eu tanto personifiquei durante esses dias todos.

- Olha, achei, é esse aqui?

- Sim, sim... é esse. Valeu.

E não é que ela achou o tal livro? Fiquei enrolando lá dentro com ele, afinal, não tava com grana o suficiente para comprá-lo. Sem contar que deixando para depois, eu a veria de novo por lá. Não contavam com a minha astúcia 2! Trocamos mais algumas palavras, descobri até que ela quer fazer vestibular para letras, a mesma carreira que eu. Descobri também que ela adora rock - sonha ter uma banda - adora igualmente Shakespeare, vampiros e cheiro de maçã. Também odeia jujubas verdes, que nem eu.

Passaram alguns dias, mas pra mim soou como uma eternidade. Uma eternidade ao quadrado, se é que isso existe. Essa eternidade chegou a passar por alguns instantes, no dia em que eu estava no ponto de bus e quem eu vejo dentro de um? Ela! Sabe o que eu fiz? Não peguei o ônibus, estava atrasado pro trabalho. Mas aquela imagem já valeu por muita coisa, agora eu entendo aquela figuração “colírio para os olhos”.

Mais uns dois dias, e estou lá de novo. Me arrumei como se estivesse indo para um encontro. Minha aparência era um misto de “encontro com a linda e gostosa” com “vou conhecer o pai dela hoje. Ele é bravo e anda armado”. É: 1) moda, estética, essas paradas não são o meu forte. 2) tenho definições um tanto quanto atípicas para as coisas. Chegando à porta da livraria, que também era um sebo, vejo uma menina aos beijos com um cara. Senti inveja dele, lógico, afinal a menina em questão era linda e era... Ela!

Acho que fiquei uns 2 ou 3 segundos sem respiração, paralisado. Fora de brincadeira. E agora, quem poderá me defender? Entrei na livraria, andei de um lado para o outro, procurando me ocupar, sei lá. Ela depois de uns minutos entrou também, passou do meu lado, eu não sabia se sorria, se dizia um oi... preferi ficar na minha, fingi que não vi. Não sei se ela fez o mesmo ou não me viu, mas passou direto. Droga. Procurei um outro vendedor, comprei o tal livro que precisava e fui embora.

Voltei lá algumas vezes mais. Uma vez quem eu vejo cabisbaixa num sofá com uma pilha de livros de lado? Sim, fiquei triste pela tristeza dela, mas porque supus logo uma coisa: o fim do namoro! Bom, depois acabei notando que supus (que forma verbal mais feia!) tudo certinho, a chamei pra dar uma volta e o resto é história. Boa, muito boa.

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