O retorno do poeta solitário.

Numa noite fria um homem caminha solitário vai pensando em seus amores, nos seus livros, nos seus porres, em um momento distante, no próprio futuro, na vida.

Olha para o céu sem luar, tão triste a seu ver. Caminhando envolto nos seus pensamentos não vê as pessoas que passam com suas roupas para protegerem-se do frio, não percebe os cães na calçada deitados em frente as portas das casas nem um arvore que atrapalha seu caminho.

Ele olha mais uma vez para o céu com pouquíssimas estrelas e fica a refletir. Para um instante e constata “o céu parece chorar”. Logo vêm a sua mente suas noites de poeta, quando a mais simples palavra inspirava-lhe um poema. Lembra que foram tempos de inseguranças e incertezas, mas que foram de extrema importância para a formação do homem que é hoje.

Mesmo tantos anos após escrever o último verso e decidir que não faria mais poemas, e sim, dedicar-se-ia a arrumar um emprego e viver como os outros, ainda sente falta de suas escritas. Sente falta das noites em claro, sozinho nas suas quimeras, buscando a palavra certa para definir a beleza de uma mulher ou expressar o momento que se passava em sua vida tornando o que escrevera agradável aos seus olhos e ouvidos.

Nota que ficou muito tempo ali parado e algumas pessoas já o olha estranhamente com certo ar de desconfiança, deviam achar no mínimo diferente um homem assim parado no meio da rua às vezes olhando para cima outras de cabeça baixa. Volta a caminhar e agora apressa o passo. Uma vontade de estar em casa apodera-se dele, um sentimento semelhante aos da juventude aos do poeta que fora no passado.

Chega em casa, onde mora sozinho – separou-se da mulher a cinco meses e o filho que tiveram morreu em um acidente automobilístico com vinte anos, passaram-se dois dessa tragédia – e percebe que largou sua vida pra viver outra imposta por alguém ou por algo. Pega uma garrafa de uísque, já pela metade, e servi-se de uma dose dupla, na verdade um copo cheio da bebida.

Acende um charuto e procura papel e caneta, está decidido, voltará a escrever. Organiza as idéias e rabisca alguns versos. Não importa o tema do poema, em qualquer situação o título será o mesmo: “O céu parece chorar”.