NO AEROPORTO
O bar do aeroporto estava lotado.Ele tomou o cafezinho,pagou o garçom,colocou o jornal na pasta e se dirigiu à sala de embarque.Fal- tavam alguns minutos para a chamada.Sentou-se calmamente.
No banco em frente,atraiu-lhe a atenção a moça absorta na leitu-
ra de um livro.Podia ver que era jovem e bonita,tinha um porte altivo e
jeito refinado.A roupa que usava parecia cara.
Não conseguia desprender os olhos dela, não sabia porque, uma atração irresistível começou a dominá-lo. Desviando os olhos do livro
ela também o mirou distraída e esboçou um leve sorriso. Demonstrava sentir o olhar fulminante,como se quisesse despí-la.
Fez uma breve inclinação de cabeça para a moça, mas não foi
correspondido.
Ela virou a página e continuou a leitura, porém, disfarçadamente
olhou-o de esguelha.O homem traduziu como um certo interesse por
sua pessoa, talvez uma ponta de simpatia.
A curiosidade aguçou-lhe o pensamento.O que estaria lendo?Um
romance?Um livro de psicologia,de filosofia?
Para onde iria?Quem sabe ganhara uma bolsa de estudos e se diri-gia para algum lugar da Europa?Ou seria uma pesquisadora que se en- caminhava ao Egito, à India ou a outro país qualquer? Uma josrnalista
que iria fazer uma importante cobertura no exterior?Não.Não tinha as-
pecto de jornalista, pois estava tranqüila e as jornalistas são sempre
muito agitadas, em todos os momentos procuram um furo de reporta-
gem. Os óculos modernos davam-lhe um ar sério de intelectual.Talvez fosse uma dessas que vivem viajando, fazendo conferências em Con-
gressos e Simpósios. Ela não parecia uma mulher que intimida os ho-
mens com sua personalidade marcante.Não fazia o gênero prepotente,
ao contrário aparentava meiguice e um pouco de timidez.Precisava a-
bordá-la,arranjar um pretexto para provocar uma aproximação. Queria
conhecer-lhe,perguntar o seu nome,saber se viajariam no mesmo vôo.
Antes de levantar-se para ir ao seu encontro deteve-se. Ah! E se ela
fosse casada com um homem ciumento e possessivo?Se ele chegasse
no próximo avião e os enconttrasse numa conversa íntima, ou mesmo
abraçados?Se fosse uma pessoa portadora de uma arma?
Voltou a olhá-la bruscamente e uma idéia terrível apoderou-se do
seu cérebro, vaga, confusa, agitando-o,causando-lhe imenso pavor.O
marido possuído pela fúria,investindo contra eles, ameaçando-os com
um revólver. Um suor viscoso brotou no rosto pálido. Remexeu-se no
banco, encolheu-se e um calafrio percorreu-lhe a espinha. Um grito
morreu na garganta,quando a voz do alto falante do aeroporto, sacu-
diu-lhe, anunciando:
"Senhores passageiros,portadores da passagem do vôo 747,com
destino a São Paulo,por favor, queiram dirigir-se ao portão de embar-
que número três".
Saiu apressado e enquanto caminhava meio aturdido,viu a moça
levantar-se e ir para o lado oposto,para onde a pessoa que certamen-
te esperava estaria desembarcando.
*Classificado em 3º lugar no Concurso Literário da Associação Literária e Artística "A palavra do Século XXXI"
*Publicado no livro "Os últimos acordes do concerto"
Contos/Crônicas-lançado em 2007