POVO DO ARRAIAL DE JAMACARÚ

POVO DO ARRAIAL DE JAMACARÚ

São tantos Antônios,

Tantas Gertrudes,

Tantos grandalhões,

Tantos baixotes,

Tantos e tantas!

Todos vivendo na pacata realidade do interior do Jequitinhonha.

São Marias e magias que desfilam pelas ruas ressequidas do amanhecer em Jamacarú.

Uma avenida solitária e tantos caminhos!

Lá vai Rosária na agitação buscar fermento e leite de cabra para amassar o pão.

Seu Lindolfo arruma o cinto meio caído, que saudade de seu Lindolfo!

Dona Filomena na janela, um batom bem vermelho e cabelos bem penteados.

Essa passa o dia olhando quem passa!

Ela já tem calo antigo nos cotovelos de tanto ficar debruçada no portal da janela que fica de frente para a rua da casa do padre Orestes.

Orestes é um padre velhinho. Muito magro e bem batinudo, que usa bengala, óculos fundo de garrafa, chapéu redondo e chinelos que ele mesmo faz. Passa o dia pescando no rio Manso, também, não tem nada para fazer mesmo!

Dona Afonsina, mulher de fibra, essa passa o dia buscando água na cabeça em busca de alguns trocados para comprar o arroz e o feijão para seus filhos minguados, mas já meio passadinhos.

Seu Onofre, esse fica passeando no jardim central da praça principal. Aliás, só há uma praça por lá.

Ele passa o dia cuidando do belo bigode branco e esperando a aposentadoria no final do mês.

Seu Anacleto do empório! Outro homem equilibrado. Esse tem um senso de justiça formidável.

Já foi vereador duas vezes e correspondeu à altura de um vereador honesto.

Com suas calças de gabardine bem passadas e suas camisas de botoaduras, seu Anacleto é inconfundível.

Doutor Juvenal, clínico geral, mora no povoado por opção, médico aposentado e mal educado.

Cuida das pessoas por obrigação. Mas elas acham bom, consulta de graça para todos.

Imagina na casa desse médico quanta amolação.

Seu Correia e dona Conceição, esse casal é cheio de si, só porque tem um filho padre e uma filha freira, essa mora em Paris. Esquecem dos outros onze filhos que estão nos canaviais do interior paulista.

Acham que são os melhores e não há uma missa que eles não vão à sacristia cumprimentar o Pe. Orestes que por sinal não está nem aí com eles.

Seu Luiz pintor, eta homem bom! Pinta as casas de todos que lho pedem.

Um jeito de trabalhar bem amador, mas quando resolve, se o pedido for cor verde e ele resolver colocar amarelo, pode largar mão.

Ele está sempre alegre, seus dentes são lindos e ele tem o prazer de mostrá-los constantemente no seu negro rosto marcado pelo sol e pelo calor e acima de tudo, pela raça.

Dona Lira, essa é neta de italianos, tem os olhos azuis, pele rozada, gorda que só vendo!

Tem uma filharada! Trabalha como louca, aliás, três coisas são próprias de italianos: trabalhar bastante, brigar assaz e comer demasiado.

Seu Firmino, outro negro magnífico. Esse toca sanfona como ninguém, até na Igreja ele toca.

Todas as tardes, depois que ele chega do roçado, pega a gaita e toca sossegado no alpendre de madeira de sua casa. Sua nega, Dona Constantina, enquanto aprecia as lindas canções que são executadas, tece suas rendas maravilhosas que serão vendidas nos domingos na banca de seu Caetano, depois da Missa das dez lá no mercado municipal. Ah! Eles brigam todos os dias devido o jantar sair tarde.

E assim eu poderia ir mencionando outras pessoas e suas vidas no arraial de Jamacarú!

Às pessoas que não mencionei, também vai meu abraço e a certeza de que todas estão no meu coração.

É isso!

Acácio

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 09/09/2008
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