O mosteiro e o bater de portas

O Mestre caminhava como de costume com o seu discípulo predileto. Os dois estavam subindo a escadaria do Mosteiro, uma escada do século XIX, toda entalhada na melhor madeira, quando surgiu no início desta escada um outro discípulo.

O discípulo predileto do Mestre ao ver o colega subindo a escada começou a ter uma reação estranha, marcada pela cólera, pelo desequilíbrio, chegando próximo da loucura. O discípulo predileto também conhecido como Zen começou a bater as mãos na escada e a pisar mais forte enquanto subia cada grau.

Essa atitude de descontrole do discípulo chamou a atenção do Mestre, que ficou pensativo com aquele comportamento irascível, que não é comum a um monge.

Mas, se não bastasse esta situação, Zen disse para o Mestre que eles deveriam acelerar o passo, pois ele Zen queria e muito dar uma boa portada na cara do outro discípulo conhecido Den Lee, com o objetivo de desconsiderá-lo, como já vinha fazendo a alguns dias.

O Mestre não se conteve com aquela atitude desprovida de cordialidade, educação e bom senso, e disse para Zen.

- O que está acontecendo com você. Parece que está descontrolado. Se você não morasse neste Mosteiro que é dedicado a orações eu diria que você deveria ir para um Hospital buscar um tratamento para esta aparente loucura.

-Não é nada disso Mestre! Não tenho loucura nenhuma. Eu apenas não suporto o Den Lee. Eu não gosto dele Mestre. Queria que ele deixasse o Mosterio. Já fiz inclusive vários despachos para que isto acontecesse. Gastei todoas as minhas economias, mas ele continua aqui. Não sei por qual motivo. Ninguém gosta dele Mestre!

- Mas o que é isso Zen? Você já se perguntou se ele gosta de você? Se os demais discípulos gostam de você? Se ele também não sente o mesmo devido ao seu comportamento infantil, marcado pela cólera, e pelo que estou percebendo pela inveja e também pela falta de maturidade. Parece que você não cresceu. Que sofre da síndrome de Peter Pan!

- Que isto Mestre?

- Que isto digo eu?

- Agora sei que anda batendo as portas do Mosteiro. Saiba que outro dia eu disse para mim mesmo. Quem será esta pessoa que costuma bater as portas, que não respeita as demais pessoas, que acredita que possa fazer o que bem entender neste Mosteiro?

-Mestre me perdoe! Mas, eu não gosto do Den.

- Muito bem Zen. Continue pensando assim que logo vou mandar você embora do Mosteiro.

- O mundo Zen precisa de evolução. O Mundo precisa de pessoas que não digam apenas que são bondosas, que falam em Deus, mas que ascendem uma vela para o Diabo. Que pregam a paz, mas vivem a violência.

- O mundo não precisa de pessoas falsas, maldosas, de mau caráter, que querem levar vantagem em tudo. Que se fingem amigas de outras pessoas com o intuito de prejudicar os seus semelhantes.

- O mundo não precisa de pessoas histéricas, hipócritas e falsos moralistas.

- Mestre, o que é isso?

-A pura verdade! Espero que um dia você aprenda a tolerância e não perca o seu tempo com atitudes que não levam a nada, a não ser o desconforto espiritual.

- Todos possuem direitos. Ninguém é obrigado a gostar de ninguém, mas todos devem a aprender a conviver.

- Mas, chega de conversa Zen, você está dispensado. Estou indo me recolher.

Depois deste diálogo franco e verdadeiro, o Mestre ficou pensando no Zen e no Den, e no quanto Zen ainda precisava evoluir na sua caminhada. Apesar de discípulo predileto, o Mestre não poderia deixar de falar a verdade a respeito do que estava ocorrendo a sua volta.

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