as mulheres de bernardo - sarah

Certo dia, Bernardo resolveu apertar o botão pausa na sua vida. Ligou

o foda-se para a faculdade por um dia e inventou uma gripe para matar o estágio. Trocou aquela sala calorenta matinal e o ar-condicionado vespertino por um dia inteiro curtindo a brisa do mar e todas as alternativas oferecidas pela paisagem da orla.

Sentou-se na areia, próximo a uma rede de vôlei em que estavam uns

coroas a jogar. Não estava nem aí para o jogo. Queria mesmo ficar de

bobeira por ali, abençoando intimamente os inventores do biquíni, principalmente o dos biquínis bem pequenos.

De repente, uma voz interrompeu uma pequena fantasia que ele iniciara. Nem precisa dizer que fantasia era essa...

- Faz dupla comigo?

- Ahn?

O tal "ahn" foi a única coisa que ele conseguiu dizer. Ou melhor, resmungar. Tal foi seu espanto e surpresa ao ver que a dona da voz era uma loira linda linda, de olhos claros claros, com um corpo de modelo de comercial de cerveja. Ficou uns dois segundos sem ar, com os olhos fixos naquela que elegeu prontamente como uma namorada em potencial.

- Er... eu não sei jogar, mas quero, quero, sim.

- beleza.

Não precisa dizer que a tal partida foi um desastre. A loira linda

linda tinha um talento... talento para o esporte em questão -, mas

Bernardo nunca tinha jogado vôlei, nem quando criança, nem de

brincadeira. Terminado o jogo, ela foi saindo, saindo da quadra,

Bernardo quis continuar a dupla, dirigindo-se com a musa para onde ela

fosse. Ambos trocaram uma palavra ou outra, Bernardo, tímido, não

tinha muito jeito com meninas; inseguro, não se achava capaz de

conseguir aquilo tudo. O encanto dele era tamanho que invejava o mar

por tocá-la inteiramente, e comparou-se a cada grão de areia aos pés

daquela deusa. Na verdade, equiparou-se a eles.

Perguntou-lhe o nome, ela disse. Chamava-se Sarah. Trocaram mais algumas frases, uma pergunta ou outra. Acanhado por parecer invasivo, pediu o MSN dela. Recebeu-o. Já não via a hora de sair da praia, trancar-se em casa e vê-la online. Escrevendo, não seria

acometido pelo nervosismo que tomava todo o seu corpo, fazendo-lhe

tremer as pernas, ruborizar-se e gaguejar. Retificando... seria alvo

dessas sensações, sim, mas ela não perceberia pelo menos.

À noite, lá estava ele com o Messenger aberto. "Bernardo - Quando

não está inspirado, ele procura a inspiração", seu apelido e mensagem pessoal, respectivamente. Assim que ela entrou, mais um susto, mais uma surpresa, apesar de ele aguardar tal fato ansiosamente.

Apreciou a foto que ela usava como imagem de exibição, uma mulher,

linda, surfando uma onda gigante. Tentou puxar assunto, mas ela

demorava pra responder, e, quando o fazia, era monossilábica. E ele se

sentindo o chato.

- Mas q frase eh essa aih no seu nick?

- Hum, é uma música, do Jorge Bem...

- kra... serio??? Me amarro nele... mas hj em dia soh escuto surf music

Bernardo e Sarah mais pareciam antônimos um do outro. Ela, atleta (e das radicais), extrovertida, linda; ele, sedentário, fechado e bem sem graça. Só não eram perfeitamente diferentes porque isso é impossível, e até tinham uma preferência musical em comum. Conversa vai, conversa vem... Sarah contou pra ele que surfava desde criança, e que já estava no circuito mundial: Califórnia, Hawai, Bali... - pelo visto a mulher da onda gigante era ela -.

Enviou para ele algumas composições da tal surf music, que Berna - ela resolveu chamá-lo assim - conhecia, mas, convenhamos, nada tinham a ver com seu gosto musical. Tentando agradá-la e, indiretamente, dizer o que queria, mandou-lhe algumas poesias, qualificadas sempre como "show de bola".

Por vezes, Bernardo lembrava da foto de Sarah surfando aquela onda gigante. Será que ela não tinha medo? Medo de morrer naquela aventura, medo de se machucar, sabe-se lá.

Bernardo descobriu o orkut da sua mais nova musa. Vasculhou tudo por

lá, procurando fazer um levantamento de seus gostos e personalidade,

assim teria algum assunto no encontro que haviam marcado. Isso, marcaram um encontro, foram a um show de surf music. Bernardo disse que foi Deus quem mandou ele qualificar como "show de bola" uma música do Jack Jhonson que a linda linda lhe mandara.

O show foi péssimo para Bernardo, mas ele soube interpretar muito bem e parecia estar achando tudo demais demais. Bom mesmo, só o que aconteceu depois. Noite de calor nem de frio, céu quase sem

estrelas e quase sem lua, uma brisa mansa, fresca, mão na mão, mão

na cintura, barriga na barriga, boca na boca. Beijo. Beijo. Beijo.

Beijo. Beijo!

Viram-se algumas vezes depois desse dia. Sarah tentou ensinar Bernardo a surfar. Frustraram-se ambos. Sarah por vezes perdia a paciência, mas após a "aula", sentados na areia, ela recuperava sua graça com um poema recitado no ouvido por Bernardo e por uma série de elogios por ele perpetrados. Às vezes, ela ficava de saco cheio e dava um beijo nele, pois assim ele calava a boca. Nem precisa dizer que ele passava o dia, a semana esperando por momentos como esses.

Um dia, ele resolveu pedir-lhe em namoro. Coragem, nervosismo, perfume, uma roupa legal e uma rosa. Saiu mais cedo do estágio, deixou um pouco de lado as apostilas da faculdade também. Quando a encontrou, um sorriso, um pulo em cima dele e um monte de beijos. Pediu.

- Namora comigo?

- Cara, eu vou pra Bali, eu vou surfar... Nem rola.