TRANSVIADOS, EFEMINADOS E OUSADOS... (Luc Ramos)

TRANSVIADOS, EFEMINADOS E OUSADOS...

(Luc Ramos)

Jean quando criança foi um menino muito bem criado, teve boa educação, freqüentou boas escolas, e, sobretudo recebeu muito carinho dos pais e familiares...

Quando Jean estava com seus doze anos já se mostrava um garoto prendado, ele arrumava uma casa que dava gosto, fazia comida e ajudava a sua mãe, que se ocupava quase o dia inteiro com as suas freguesas no seu salão de beleza, ele era nota dez, um filho exemplar...

Jogar bola, empinar pipa, essas coisas de moleque, não era com Jean, ele adorava brincar com meninas, principalmente, as primas, só que não de médico, e sim de bonecas e casinha.

Se alguém na casa dele desconfiava de alguma coisa, referente a sua virilidade pelo menos procuravam não demonstrar.

Pertencendo a uma família de classe média, quando fez dezoito anos, completando assim, a maioridade Jean ganhou do pai uma Motocicleta 750 cilindrada uma linda motoca, o pai teve o prazer de dar de presente ao filho a possante maquina porque como se sabe, a motocicleta representa a masculinidade, o pai de Jean, talvez tenha imaginado, que, possuindo uma moto, ele poderia mudar um pouco os seus trejeitos efeminados.

Bem, isso não aconteceu, mas, Jean continuou a andar com as meninas, como ele sempre fazia, e andava em turma, Jean além das primas, tinha um grande circulo de amizades, onde, moças muito bonita, eram sempre vistas em sua companhia.

Elas iam para todos os lugares, com Jean, passavam fins de semanas no Campo, na Praia, em cinemas e teatros eles iam sempre juntos, formando assim uma espécie de Gang cultural.

Agora que Jean possuía a moto, com ele sempre viajava uma garota, a Jéssica, essa menina era a sua acompanhante oficial, havia entre os dois uma grande afinidade e um relacionamento de muita honestidade, as outras meninas, inclusive as primas iam ao carro de uma delas, já que todas tinham automóveis, porque a maioria delas eram professoras e trabalhavam de dia e cursavam Faculdade à noite.

Diziam as más línguas, que os pais das garotas não achavam ruim que as meninas andassem com o Jean porque ele não oferecia perigo, que ele não gostava da fruta.

Como a moça que mais acompanhava o Jean em suas andanças, era a Jéssica, uma garota que algumas pessoas censuravam por ela não ser professora como as suas colegas, a sua atividade era trabalhar como modelo fotográfico e isso criava um certo preconceito à figura linda e sensual da Jéssica.

Certos fins de semana, prolongados, desceram para Ubatuba, Jean e a Jéssica, na moto, quatro primas, e a tia dele, mãe das meninas, alugaram uma bela casa de veraneio para passar uma semana.

Durante o dia curtiam praia, e a noite saiam para os Quiosques, para tomar chope e ouvir musica.

Na noite de sábado, tinham acabado de chegar e estavam no Point da Enseada, se divertindo pra valer, quando ouviram um barulho de carro batido, Jean e Jéssica foram verificar, pois as primas tinham deixado o carro no estacionamento e a moto de Jean também estava lá.

Quando chegaram no estacionamento Jean e a Jéssica viram dois motoqueiros levantando a moto de Jean que estava no chão, eles usavam roupas de couro pretas tipo anos 60 e eram mal encarados.

-Meu amigo, você derrubou a minha moto, ela estava tão bem estacionada.

-Não posso fazer nada, meu chapa, eu bati sem querer, deu uma nublada na minha vista, e eu.Fiquei cego repentinamente, sacou?

-Deve ter sido o álcool que você ingeriu, ou então algo que você fumou.

-Garoto esperto, vai ganhar um premio o adivinhão do ano.

As primas de Jean que tinham chegado ao local e percebendo que os motoqueiros eram arruaceiros, e estavam dopados, tentaram contemporizar, chamando o Jean de volta para o Quiosque.

- Vamos, Jean, não fez estragos na moto, vamos ouvir musica.

-Há, ele está cheio de gatinhas, pra que tanto, elas gostam è de homem.

Jean, jà bastante nervoso, a cada palavra que tentava proferir mais gaguejava e a sua voz falhava se tornando mais fina ainda, e os dois motoqueiros, se divertiam com isso...

-Meninas, vocês estão mal acompanhadas, venham conosco eu e o Toni vamos levá-las para passear, conhecer o Nirvana vamos?

-Deixe as meninas em paz, não enxerga que elas não são para o seu bico?

-Cala a boca, veadinho, senão vai levar é um pau, há, há, há, há, se ligou...Você gosta né?

Jéssica pressentindo que as coisas não iam ficar bem foi tirar Jean do meio dos dois cafajestes,

Quando um deles levou a mão em direção ao seu seio. -Tire as mãos dela, seu fedido.

O motoqueiro nem piscou, deu uma ponta pè na bunda de Jean que caiu no meio da rua, o outro, o tal de Toni, falou para as garotas: - Olha aqui, suas burguesinhas, não folguem com a gente, a nossa turma não pede, vai logo pondo a mão entenderam? Já que esse cara esta se doendo por vocês, ele vai ter que encarar a gente sacou?

É a lei gatinha, a lei do mais forte, há, há, há, há...

-Você não vê que nos não somos da sua laia, nem da sua gang, turma, ou tenha o nome que, tiver o seu circulo de amizade, seu mastodonte...

-Olha aqui mina, não folga (o dedo em riste) você não esta em condições de mandar nada, você está só, e mal acompanhada... Esse cara, esse fracóte não agüenta uma mina como você... Sacou?

A Tia do Jean chegou e resolveu dar um basta naquela conversa, que não estava indo muito bem.

-Jean, o que foi que houve? O que esta acontecendo aqui? O que é que vocês querem seus cafajestes.

-Calma, coroa, muita calma nesta hora...

Em um rápido relato, Jean contou o que estava se passando, da queda da sua moto, e da indelicadeza dos motoqueiros.

Dona Iracema, professora aposentada, acostumada com alunos rebeldes tentou colocar panos quentes.na discussão, foi ponderando...

-Rapazes, tudo bem, jà que não houve danos materiais, vamos deixar de brigas e aproveitar a tarde de verão...vamos Jean, vamos ouvir um som para nos distrairmos.

Os motoqueiros estavam intransigentes, eles queriam brigar de qualquer maneira.

È o seguinte, tia, esse fresquinho ai afrontou a gente, o problema foi por causa da moto não é mesmo? Então vamos resolver com moto, você seu frangote, amanhã domingo à noite, vai disputar um racha comigo conheço um lugar adequado para isso, quem vencer fica na cidade, quem perder dá o fora e nem olha para trás, feito?

Jean amarelou, ele era um motociclista, dirigia bem, mas, obedecendo a regras de transito, dentro da legalidade, rodava em velocidade compatível não fazia besteira no transito, sem essa de racha, ele não se prestava a esse tipo de coisa...

-Sabe pra que isso? Porque é coisa de homem, de macho, por isso eu...

Uma voz feminina sobressaiu sobre a do motoqueiro.

-Esta bem, cara, ele topa sim.

Todos olharam surpresos para a prima de Jean, a lourinha Jaqueline.

-Jackie, (disse Jean, surpreso) eu não falei nada disso.

-Gostei lourinha, pelo menos você è mais macho, que essa motoguel de araque que é o seu primo... Assim vou poder tirar a minha diferença com ele.

-Que diferença moço, eu ouvi um barulho,vim olhar o que estava acontecendo, vejo você levantando a minha moto que tinha sido derrubada por voce mesmo e agora vem você ainda querer achar que tem uma diferença comigo, ora, vai te catar...

-Para de falar fino e me insultar, cara, você pensa que ta com a bola toda, só porque esta com essa mulherada toda do seu lado, não è Zeca? (O motoqueiro perguntava para o amigo)

-È sim, Toni, ele com tantas e nos sem nenhuma.

-Também, cara, com essa barba ridícula e essa roupa suja de motoqueiro, vocês não vão conquistar ninguém mesmo...

A prima Jackie voltou a dominar a conversa.

-Jean, deixe de conversa com esses caretas, e manda-o marcar o racha, nós não temos tempo a perder com esses tipos marginalizados.

-Lourinha, tu è folgada, se liga...

-Ta bom, deixa quieto, Toni, nos também temos pressa, é o seguinte: Amanhã às 20 horas estejam na Enseada do Pirata lá tem um loteamento novo, as ruas estão demarcadas, é terra pura, mas, para um bom piloto de moto é uma baba, aparece lá motoguel (e de dedo em riste) no horário marcado, porque se você não aparecer, a gente vem te buscar, ai você vai apanhar com um gato morto até ele miar.

-Não se preocupe que ele vai estar lá seu convencido, quero ver se na hora da pega pra capar você è bom mesmo.

-Falou Lourinha, estou começando a gostar do seu jeito de ser, até lá garota.

Os dois motoqueiros subiram em suas motos, pois, cada um pilotava uma “mil cilindradas” e arrancaram a toda velocidade cantando pneus, de passagem rasparam em um carro tipo Gol que estava estacionado ao lado e sequer olharam para os lados.

Jéssica foi a primeira a se mostrar preocupada e quebrou o silencio:

-Puxa Jackie, que fria foi essa que você arrumou para o Jean, francamente eu não entendi você bem sabe que ele não pode competir com aquele animal, o Jean obedece toda a orientação do transito e aquele outro come e dorme sobre a motocicleta, o Jean não é páreo para ele.

Mônica a outra prima, fez a sua observação:

-É prima, mas, se ele não for vão procurar por nos em toda Ubatuba, ai quando nos acharem, vai ser um terror, e se a tia estiver conosco, coitada, vai morrer de susto.

-Não sei o que fazer, não consigo nem pensar direito, disse Jean, transpassado de medo. - Não entendi Jackie, como você foi me arranjar uma fria dessas, me explica isso direito menino.

-Garotas (e com um ar de quem estava num palanque discursando) quando aquele suíno de barba falou que era um ás na motocicleta, eu tive uma idéia, e agora vamos pô-la em execução, precisamos de um telefone celular e da agenda da Tia. - Seu caderninho esta ai Tia?

-Sim, menina esta! Mas, eu não estou entendendo nada, dá para me explicar?

-Só depois que eu fizer uma ligação para Santos, assim que isso acontecer eu explico, se der certo, aqueles cafajestes vão ter uma lição inesquecível.

Depois de um telefonema de quase meia-hora, onde cada uma das meninas falou um pouco com a pessoa do outro lado da linha. Parecia que a conversa tinha surtido efeito, pois, até Jean que estava muito assustado começou a rir e ficou muito animado.

No outro dia, Domingo, as meninas e a Tia foram para a praia, pois fazia um dia lindo, se bronzearam, desfilaram a sua beleza na orla marítima, depois foi para casa almoçar, dormiram uma soneca e a noite depois de um outro telefonema, agora bem mais rápido se aprontaram para irem ao encontro marcado. Às 8 horas da noite.

Faltavam alguns minutos para as 20 horas quando o barulho ensurdecedor de várias motocicletas foi ficando cada vez mais intenso, até que a noite bastante clara e enluarada iluminou fantasmagoricamente a figura de duas dezenas de motoqueiros, eles vinham em fila indiana, um atrás do outro, eram quase vinte e quase todos traziam no banco do carona uma linda garota todas paramentadas com roupas de couro e capacete. As garotas, na verdade, talvez nem soubessem do propósito verdadeiro deles, que o racha que o colega delas ia participar seria apenas para humilhar um jovem com trejeitos femininos sem nenhuma capacidade para ser adversário do motoqueiro chefe daquele grupo.

Toni e Zeca vinham. Cada um em uma 1000 cilindrada, eles como os outros motoqueiros, traziam cada um uma bela garota no banco do carona.

Os motoqueiros ficaram na entrada do loteamento e formando uma linha ficaram as esperas do Jean.

Não demorou muito, chegaram Jean e Jéssica, em uma moto “sete galo” vermelho, muito bonito, não era aquela que o Zeca tinha derrubado no estacionamento.

Em um Fiat Uno vermelho, as primas de Jean, com a tia dirigindo e acompanhando eles um Chevrolet Diplomata preto, com vidros fume, onde não se conseguia ver nada dentro do carro fazia parte do grupo.

Esse Loteamento onde eles estavam havia sido desativado pelo Ibama, aquela propriedade fora anteriormente uma fazenda, isso no tempo do Império, era uma manancial de mata Atlântica, e investidores ávidos pôr dinheiro tinham desmatado uma grande parte do terreno e arruaram e demarcaram para começar a vender os lotes para granfinos construírem mansões, porém uma Ong conseguiu embargar o loteamento e o Ibama colocou-o sob a sua proteção.

Enquanto a Justiça derimia as diferenças, ninguém mais poderia construir là, as ruas estavam todas ciscalhadas, eram mais ou menos cinco quilômetros quadrados de ruas, serviriam como pista de corridas para os motoqueiros, no terreno em sì predominava areia, em algumas curvas havia barro tipo saibro, em outras uma ou outra sarjeta que não fora ainda colocado, tudo isso oferecia perigo aos litigantes daquela corrida, e, sobretudo para Jean que não conhecia a pista, ele desconfiava que o tal de Toni já havia competido naquele lugar, e conhecia bem a pista, por isso ele tinha escolhido esse local para a disputa.

Jean estava todo de negro, vestia um conjunto de macacão de couro, próprio para motoqueiro viajar, com luvas, também pretas, ele estava apenas sem o capacete, este, estava em sua mão e para combinar era todo preto e tinha desenhado em sua parte frontal a cabeça um leão em amarelo dourado, lindo!

-Olha, pessoal, que roupa bonita a da motoguel, ela esta linda, você percebeu que ele também trocou de motocicleta Toni?- Essa não é aquela que nos derrubamos no estacionamento do Quiosque.

O objetivo de Zeca com a gozação era enervar Jean.

-E o capacete, que beleza, deixa disso, menina, isso é capacete pra homem usar, é do seu namorado, ah, ah, ah, ah, ah, ah...

-Deixa de gracinhas e vamos começar logo isso, você fala muito e com isso os seus dentes podres ficam expostos, isso é feio. -Disse Jean.

Uma voz grave de repente se fez ouvir: - Espere, eu vou ser o Juiz desse confronto, tinha descido do Diplomata um Coroa de seus cinqüenta anos, forte, bronzeado, vestido de camiseta e bermuda, trazia na mão uma automática 380.

Apontou a arma para o Jean e lhe disse: Vai para dentro do Diplomata que eu vou impedir essa disputa louca... (continuou)

-É o seguinte, quero que saibam todos, eu sou o tio do rapaz de São Paulo chamado Jean. Sou irmão dessa senhora que vocês conhecem mãe das mocinhas, ela é minha irmã me pediu que impedisse essa disputa louca, e eu concordei com ela. Enquanto o homem falava Jean obedecendo a sua ordem, entrou no Diplomata. O homem de cabelos brancos continuou a falar:- Porém, ao chegar aqui e vendo essas motocicletas lindas e incrementadas, algumas até turbinadas fizeram-me recordar da minha juventude transviada, por isso eu resolvi deixar que a disputa se realizasse, afinal de contas eu sou filho de Deus e mereço assistir também uma corrida dessas... E como o local não é habitado, o racha não oferece perigo a terceiros...

-Quem é o senhor para estar armado com uma automática? Um motoqueiro perguntou.

-Há, bem lembrado meu rapaz, eu sou Tenente da Policia e gostaria de deixar avisado que espero que essa competição seja honesta e que o perdedor cumpra o que foi combinado, ele terá que ir embora, com todos os seus amigos...Se forem vocês...Ou se for o jovem meu sobrinho terão que cumprir o acordo. Se ele perder ele vai subir a Serra, com as suas amiguinhas, muito honesto, não acha?

-Ah, ah,ah, ah,ah.riu um dos amigos do Toni, que fazia parte do time dos motoqueiros. - Toni perder para esse veadinho? Só rindo meu caro senhor, só rindo...

O homem de cabelos grisalhos atirou sem fazer pontaria e furou o pneu da moto do rapaz que tinha rido.

-Está rindo do que? Eu não estou brincando.

O tiro da automática soou como um tiro de canhão, com o motor das motos desligados, o silencia no loteamento fora quebrado, o disparo causou o efeito desejado assustaram até a Tia e as sobrinhas, todos ficaram em silencio.

-Calem a boca, eu estou falando quero respeito, e você ai, mostra que é mais homem que ele, ganhando a corrida, quem chegar aqui primeiro depois de cumprido o percurso é o vencedor, o legitimo campeão, e o que foi acordado entre vocês e será cumprido, quem perder a corrida, retorna nesta praia no próximo verão. Certo?

Todos os motoqueiros concordaram.

Enquanto o homem falava, Jean saiu do Comodoro de vidro fume que ele havia entrado, ele saiu do carro jà com o capacete na cabeça e foi tomar a sua posição para a disputa.

-Quer fugir? Sair correndo e desistir, menina? Zeca mais uma vez tentava deixar Jean nervoso.

-Não seu otário, vou apenas lhe dar uma lição que você nunca mais vai esquecer.

Zeca achou que a voz do Jean estava diferente, mais firme, talvez fosse por causa do capacete... Estranho...

O homem de cabelo grisalho parecia ser acostumado a dar ordens, os motoqueiros perceberam isso.

-Prestem bem a atenção, eu vou dar um tiro para cima e vocês partem quem chegar de volta primeiro, depois de circundar o loteamento será o vencedor, feito?

Não quero ninguém machucado. E exijo lisura na disputa.

-Certo? Perguntou alguma coisa?Zeca tinha levantado a mão, sinal que queria falar algo.

-Se eu ganhar quero uma garota dessas, para ficar comigo. Disse Zeca.

-Essas meninas são parentas minha não são mercadorias, nem premio, se pôr acaso uma delas, tiver o mal gosto de querer ficar com você, ou qualquer outro de vocês, ela estará à vontade para fazê-lo, mas, estou pra dizer que eu duvido, vocês não são o tipo delas, são arruaceiros, viciados e todo ano no verão eu tenho problemas com gente como vocês...

-Como assim? perguntou um dos motoqueiros.

-Eu sou Tenente do Corpo de Salvamento dos Bombeiros e chefio a Guarnição que é sediada em Santos. - E vocês arruaceiros bebem como gambá, usam drogas e depois se afogam, brigam, são uns verdadeiros vândalos..

Os motoqueiros se entreolharam e ficaram calados.

Os dois competidores estavam alinhados, prontos para a disputa. Zeca, o motoqueiro, olhou para Jean, e mais uma vez este lhe pareceu diferente, um pouco mais alto ou talvez, mais forte, deveria ser impressão sua, pensou...Voltou a se concentrar na corrida. O coroa, que agora todos sabiam que era um oficial, obedeceu ao combinado, deu um tiro para o ar, e os contendores partiram.

Zeca com a sua 1000 cilindrada saiu na frente, derrapou, se equilibrou, tornou a derrapar e continuou na frente, a moto 750, de Jean, a viúva negra, parecia render melhor naquele tipo de pista era mais leve e mais rápida. Ou então o piloto era melhor do que se esperava, porque depois dos primeiros cem metros, a moto de Jean passou a frente de Zeca e com perícia o piloto da 750 impedia que Zeca passasse a sua frente.

Houve ocasião em que ficaram lado a lado, Jean e Zeca, e em uma dessas ocasiões, Zeca mostrando ser um grande canalha tentou derrubar o Jean com um pontapé na lateral da moto dele, Jean manteve o equilíbrio, e com uma rapidez tremenda, devolveu o pontapé em Zeca, porem, Jean acertou propositalmente a canela do mau caráter, e este sentiu, e não mais cometeu jogo sujo.

Quando faltava mais ou menos um quilometro para terminar a pista, e chegar à reta final, Zeca percebendo que não ia conseguir ultrapassar Jean, tentou corta-lo por fora da pista, mas, algumas guias das sarjetas

que foram jogadas descuidadamente fizeram Zeca levar um tremendo tombo, e em conseqüência cair em um tremendo poço de lama.

A moto de Jean, apesar de toda suja de lama, a cada mudança de marcha fazia um som delicioso, o piloto dirigiu calmamente até a

chegada e recebeu o comprimento esfuziante das primas e tia. Zeca se levantou, todo sujo de barro, a moto apagou e não quis pegar mais, a figura de Zeca empurrando a moto até à linha de chagada era grotesca e ridícula.

Os próprios companheiros de Zeca começaram a rir.

As meninas, primas de Jean, e Jéssica gritavam a pleno pulmões: Jean, Jean, Jean...

Os motoqueiros quisessem ou não admitir, foram obrigados a bater palmas para o vencedor, pois, a corrida foi bem disputada e se alguém tentou melar a mesma com desonestidade foi o tal de Zeca, apesar de que o fato ocorrido entre os dois litigantes, não fora visto pelos torcedores por causa da distancia.

Assim que chegou na linha da chegada, Jean colocou a moto no cavalete e esperou Zeca chegar, este chegou empurrando a moto, no tombo perdeu o capacete, Jean que continuava de capacete esperou ele estacionar a motocicleta, e quando Zeca veio em sua direção ele (Jean) esperou Zeca passar e lhe deu um ponta pé na bunda retribuindo o que Zeca lhe dera no estacionamento lá no Quiosque.

Zeca entendeu a devolução da ponta pé e ficou quieto.

Para continuar dominando a situação o Tenente falou com firmeza.

-Bem rapaziada terminou... como foi combinado, tchau e benção para vocês, não quero vê-los a partir de agora em diante aqui na Cidade, você perdeu Zeca, tchau...e para confirmar que irão embora eu vou pedir para que uma viatura da policia acompanhe vocês até fora dos limites da Cidade.

Ninguém disse um ai, ligaram as motos, e foram saindo um a um os motoqueiros.

Jean foi para dentro do Diplomata e algum minuto depois, saiu do carro, sem capacete, sorrindo...

-Gostaram meninas, comigo è assim! Nem parecia que tinha acabado de ganhar uma corrida, de cinco quilômetros, em um terreno daqueles, não tinha um pingo de barro na roupa preta.

-Gostamos muito, Jean, agora vamos comemorar, bebendo chopes e comendo camarão... O tio de Jean cumprimentou o sobrinho:

-Até breve Jean, muito juízo, faça o que eu lhe falei, compre um carro ele será mais útil para você. (continuando a despedida) - Adeus meninas, obrigado por me terem telefonado, precisando de mim... Já sabem... Procure-me, tio é para essas coisas.

-Obrigado tio, quando formos embora depois da temporada passaremos na sua casa. - Muito brigado tio... (era Jean agradecendo). -Agradeça por mim aquela pessoa que o senhor sabe quem é, entendeu do que eu estou lhe falando, né?

-Sei sim, Jean, ele te ajudou porque acha você um ótimo rapaz, até breve.

O Tenente deu um beijo na face da irmã e também nas meninas e entrou no Diplomata preto, assumiu o volante, e pegou a estrada em direção a Santos, onde morava, do banco de trás do carro, um rapaz, alto, muito bonito, todo bronzeado, vestindo ainda o macacão sujo de barro que usou para ganhar a corrida pulou para o banco da frente

- Gostou da corrida pai? -É... Mais ou menos, não devia ter dado um ponta pé na bunda do tal de Zeca, ele poderia querer briga, você teria que tirar o capacete e todos veriam que quem participou da corrida foi você e não os seu primo Jean...

-Ora, pai, ele queria zoar as minhas primas, desrespeitou a minha Tia, foi apenas uma lição, nada mais.

Uma voz gostosa se fez ouvir no banco onde Tuta estivera sentado...

-Eu adorei Tuta, eu estou tão feliz, faz tanto tempo que eu não te via.

Era a Jéssica (ela era namorada do Tuta)

-Volta aqui para trás, Tuta, quero lhe dar um beijo de premio, você foi maravilhoso, a idéia da sua prima de chamar você para assumir o lugar do Jean na corrida foi fenomenal.

Jéssica fez questão de voltar para Santos com Tuta e o pai, amanhã era segunda feira e o feriado prolongado continuava, ela ia pás-

sa-lo com o Tuta. Ia ser uma festa...

-Pai, o senhor é um cara folgado, não é mesmo? Fez questão de dar o seu show particular atirando no pneu da motocicleta daquele amigo do Zeca. -Ora, meu filho, eu não resisti... A carne é fraca e o dedo è mole...

Aqueles motoqueiros transviados, jamais iriam saber que quando Jean entrou no Diplomata a pedido do Tio e trocou de lugar com o primo Tuta, a disputa do Zeca seria com um campeão de MotoCross e surfista nas horas vagas, se ele soubesse logicamente não teria encarado o Tuta. Uma verdadeira barra pesada, e ainda acompanhada do Tenente, seu pai, coitados dos motoqueiros transviados.

O tenente de cabelos grisalhos olhou pelo espelho do retrovisor interno e viu o filho beijando a Jéssica, fez um balanço com a cabeça e pensou:

-Esse rapaz esta ficando levado, a quem ele teria puxado?

By Luc Ramos