[ depois ]

Cheguei em casa de madrugada. Ela tava na sala sentada no sofá comendo uma caixa de bombons e vendo TV. Então eu disse : Eu arrebento o meu rabo o dia inteiro lá no trabalho e você só sabe ficar vendo TV e se entupindo de doces ?

Ela olhou pra mim e disse : Cê tá bêbado.

Sim , eu estava. E o que ela tinha de haver com isso ?

Dei-lhe um tapa na fuça só pra mostrar quem é que manda nessa merda.

Ela começou a chorar e disse alguma coisa sobre divórcio. Eu disse : Engole a porra desse choro e levanta este rabo branco e gordo de merda e vai buscar uma cerveja pra mim !

Ela levantou-se com lágrimas nos olhos. Eu ainda disse em voz alta quando ela já se encontrava na cozinha : E da próxima vez que você vir com esse papo de divórcio eu te mato. Tá me ouvindo !? Acho que você se esqueceu de onde eu te tirei. Esqueceu ?!

Não houve resposta.

Silêncio. Apenas o barulho da garrafa sendo aberta.

Então ela veio com os olhos vermelhos. Trazia a minha cerveja , num copo ensebado.

Eu disse : Quantas vezes eu já falei pra você , sua fuampa , que eu gosto de tomar minha cerveja direto na garrafa ?!

Me desculpe , ela disse com os olhos cheios dӇgua.

Tá , eu disse irritado , dá logo essa merda aqui.

Tomei a cerveja num gole só.

Busca outra pra mim , eu disse , e anda logo sua lerda !

Depois de umas três ou quatro cervejas eu tava deitado no sofá da sala vendo uma porcaria de filme. O relógio da parede indicava três horas da manhã.

Ela tava no quarto dando leite pro neném que começara a chorar meia hora antes.

Eu estava ficando zonzo. Suava frio. Tremedeira no corpo. Uma dor insuportável no estômago. Tudo começou a escurecer. Eu só consegui perguntar : Sua puta de merda do caraí quê cê pôs na minha bebida ?

Nenhuma resposta.

Apenas o silêncio.