A máquina do tempo

Meu nome é Norberto. Na verdade, esse não é meu nome verdadeiro, mas o escolhi como forma de segurança. Calma, vocês entenderão. Na verdade eu sou aquilo que em literatura se chama: Narrador Onisciente. Para quem é novo em literatura, eu explico: o narrador onisciente é aquele que sabe absolutamente tudo sobre a história e as personagens. E narra em terceira pessoa.

Bem, dito isso, irei narrar uma história verdadeira para vocês sobre três amigos cientistas. E aqui também inventarei nomes pelo mesmo motivo, ou seja, segurança. Eles se chamavam: Kepler, Kant e Kafka. Os três se conheciam desde a Escola e seguiram caminhos acadêmicos idênticos, os três eram astrônomos e se especializaram no estudo sobre o Tempo. Esse caminho em comum foi alimentado pelo livro de H. G. Wells: A máquina do tempo. Na adolescência os três chegaram a montar um grupo literário para discutir a obra e poder se aprofundar no tema.

Chega de enrolação, o que eu gostaria de contar a vocês é o que aconteceu com esses três cientistas. Eles nunca deixaram de pesquisar sobre o Tempo e tinham plena convicção de que a máquina do tempo não era ficção, mas com muito trabalho e estudo eles poderiam enfim torná-la real. E, pasmem meus amigos e amigas, eles desenvolveram a tal máquina. Eles trabalharam dia e noite para realizar esse sonho que começou na adolescência. Não quero mais divagar, mas eles levaram tão a sério este objetivo que viveram como ascetas medievais. Não casaram, não tiveram filhos, uma vida inteira dedicada à criação da máquina do tempo. Eles sabiam que depois de criá-la, poderiam fazer qualquer coisa a respeito de suas vidas e, o mais legal, em qualquer lugar e em qualquer tempo.

Sem mais delongas, meus pacientes amigos e amigas, vou direto à história. E já adianto que não se trata de uma história com final feliz, na verdade se trata de uma tragédia, às vezes até uma tragicomédia. Quem não gosta de tragédias essa é a hora de parar de ler esta narrativa. Darei alguns espaços para vocês pensarem se desejam ou não continuar lendo essa história…

Vejo que alguns continuaram. Então voltemos à nossa narrativa. Fico feliz de ter algumas pessoas me acompanhando nessa narrativa. Narrar histórias só faz sentido em companhia dos leitores. Muito obrigado.

Bem, os três amigos enfim desenvolveram a máquina do tempo. Eles montaram um laboratório secreto, o endereço só é conhecido por eles e por mim, o narrador onisciente. De maneira que a experiência fracassando ninguém saberia dela e se algum dia ela fosse encontrada seria considerada artigo de ferro-velho, uma sucata qualquer.

Os três decidiram voltar ao fim do século 19 quando H. G. Wells escreveu sua obra: a máquina do tempo. Mais especificamente: Londres, 1895. O objetivo era encontrar o autor e mostrar para ele que sua ficção se tornou realidade. Mas por algum motivo desconhecido, a máquina não conseguia levá-los à data desejada, mas sempre chegavam em Londres no dia 13 de agosto de 1946, data da morte do autor.

Depois de algumas tentativas decidiram cada um escolher datas separadas que fossem próximas à data da morte do autor. E aquele que conseguisse contato com o autor faria-lhe o comunicado e assim que retornasse esperaria os outros dois para contar o feito.

Foi Kafka o felizardo. Kafka conseguiu enfim contato com o autor alguns dias antes de sua morte. O que Kafka não esperava era que seus dois amigos nunca mais retornariam. Kafka nunca soube o que aconteceu com eles, mas eu, o narrador onisciente, como já informei aos amigos e amigas leitores, tenho todo conhecimento da história e pretendo no próximo parágrafo, de maneira breve, contar o que aconteceu a Kepler e Kant.

Bem, conforme prometido, lá vai. A máquina do tempo levou Kepler a Londres em 1940 e Kant em 1941, durante os bombardeios dos nazistas sobre a capital da Inglaterra. Infelizmente, nenhum dos dois sobreviveu. O pobre Kafka esperou por um longo tempo a volta dos amigos e como não poderia usar a máquina novamente para evitar desencontros desastrosos entrou em profunda depressão em sua solidão.

Kafka, sem mais esperanças, deixou uma carta escrita para o caso de algum deles retornar e fez a sua última viagem no tempo. Não escolheu local e nem data, deixou a máquina decidir. A sorte estava lançada. Kafka nunca mais retornou. Essa é a única informação que ficarei devendo aos caros amigos e amigas leitores, pois a carta pede sigilo a esse narrador onisciente. Contudo, deixarei uma pista, quando Kafka decidiu fazer sua última viagem no tempo, levou consigo todos os arquivos de suas pesquisas sobre o tempo. Não sei, não sei mesmo se o nosso presente já não tenha algo diferente…

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 07/12/2023
Reeditado em 07/12/2023
Código do texto: T7949273
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