Microconto

Há dez anos ele sentia o perfume dela pelos corredores. Assim como o que vinha do molho de tomate e cheiro verde que escapava pela janela da cozinha dela na hora do almoço. Ouvia o barulho das chaves na porta do apartamento dela, que ficava bem ao lado do seu, toda manhã, quando um assovio frio vinha despontando juntamente com o sol e parava nas cortinas. Só não tinha percebido ainda, que era apenas criatura, era apenas o que sobrou dela, numa página amarelada de um exemplar esquecido no apartamento vazio, desde que, há exatos dez anos, ela havia partido.