Espera
Não queria mais ficar ali. Cansara de seu pai, ultrapassado, autoritário. Tinha pena de sua mãe, sofredora, oprimida. “Você é um mimado, se não tiver o que deseja se vitimiza!”, dizia o pai. A mãe chorava e pedia calma. Ele se revoltava, xingava o pai, praguejava na frente de uma estátua de São Jorge. Depois saía para a rua, batendo a porta e só voltava de madrugada quando o pai já estava dormindo ou em seu trabalho noturno. A mãe sempre acordada, esperava por ele, esperava pelo marido, esperava.
Um dia ele foi embora. A mãe chorou e ainda chora e ainda espera. O pai sai para trabalhar à noite e na noite de folga bebe. A mãe reza, faz promessa, certa vez fez romaria até Aparecida. O pai segue disciplinarmente em seu cotidiano: trabalho, bar, trabalho, bar.
Não há notícia dele. Ninguém sabe, ninguém viu.
O pai desistira e não esperava mais. A mãe esperava sempre. De manhã fazia o café para três, fazia almoço para três, fazia janta para três. E ele nada, nenhum vestígio, nada.
Um dia uma mulher bateu à porta. A mãe atendeu. O pai bebia café na copa. A mãe conduziu a mulher até à copa, o pai levantou a cabeça: filho?