O ideal

Eram 9 horas da manhã e a temperatura já passava dos 30 graus centígrados. Para a tarde chegaríamos a 40 graus centígrados com facilidade. Temperatura comum na Baixada Fluminense. Comum também era a beleza de Ângela, mas incomum aquele seu vestidinho. Vestidinho que desenhava suas curvas perfeitas. Um paradoxo era o seu perfume, inda mais quando caminhávamos pelas ruas sujas e fedorentas da Baixada Fluminense. Eu ficava irritado com os olhares obscenos dos homens em cima de Ângela. Eu me sentia impotente, pois não tinha a capacidade de dar à minha mulher a vida digna que ela merecia. E não falo da pobreza, mas do ideal. Sim, o ideal era indigno de sua beleza, de seu amor, de sua vida. “Ah, meu amor, isso não importa, eu o amo!” Ela dizia, mas isso era coisa minha, isso de ideal.

Na esquina das ruas T. e M. nos despedimos. Eu a acompanhava com o olhar até ela passar pela entrada do prédio que trabalhava como recepcionista. Ficaríamos mais de 8 horas sem se ver e eu seguia agora para o meu trabalho, trabalho que não me fazia aproximar do ideal. Seguia em meio ao mar de gentes iguais, de ruas iguais, de ideais mortos.

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 19/10/2022
Reeditado em 19/10/2022
Código do texto: T7631038
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