O muro

Corri e corri assim que abriram os portões para além de um jardim.

Antes seus muros eram tão altos que não se podia ver o que havia por detrás deles.

Os muros eram velhos e em suas colunas havia cúpulas arredondadas de um cimento sem acabamento algum mas as trepadeiras davam o arremate para a vista. O cimento era duro como dura era a vida porém diziam pelas redondezas que por detrás dele havia um belíssimo e ornamentado jardim, de incontáveis riquezas, havia estátuas, obras primas, árvores de formatos inusitados, um jardineiro excelente que trabalhava com primor.

Eu era uma criança e havia em mim uma enorme curiosidade em desbravar aquele muro.

Eles eram infinitamente maiores do que eu mas era impossível passar pela vida sem passar por aqueles muros.

Eu era criança e sonhava por detrás do muro, algumas vezes eu dormi encostada nele, olhava dias e noites passarem, via o céu ser tomado por estrelas e dormia novamente ao léu, sem temor algum tamanha era a sanha que eu tinha em ver o que havia por trás do muro.

Eu cresci e não vi o tempo passar.

Algumas vezes eu apertei a campainha que ainda era alta para mim. Deixava cartas nos portões pedindo ao dono para que me desse a chance de apenas ver o jardim, jurei não roubar nenhuma flor e nem triscar em uma borboleta, eu só queria pelo menos uma vez contemplar algo de grande e belo em minha vida.

E foi então que naquele dia os portões se abriram e eu entrei.

Olhei e não vi ninguém.

Não havia jardineiro, nem jardim e nem flor.

Eu vi um gramado apenas.

E chorei.