CONTOS DO TEATRO HUMANO - A serventia de um ser humana até o final do século XIX no Brasil

A serventia de um ser humana até o final do século XIX no Brasil

Vende-se; precisa-se; compra-se; aluga-se

No ano de 1780, numa longínqua província de nome Bom Jesus Filho de Deus, havia um grande fazendeiro de nome Francisco de Souza.

Seus descendentes registraram em seu túmulo que ele nasceu em 4 de outubro de 1754. Entretanto, outros dizem que ele nasceu em 1771. Certa somente é a data de sua morte: 8 de maio de 1849. Viveu por alguns anos na estrema pobreza e de favores. Aos 18 anos começou a frequentar a feira livre na Praça central de Bom Jesus. Lugar que vendida de tudo e onde se amontoavam muitos fregueses.

Para bem ilustrar o significado do cenário: A palavra feira teve origem na palavra em latim feria, que significa "dia santo ou feriado” e a palavra freguês, originou-se também do latim filiu ecclesiae que significa “filhos da igreja”. Assim, no início, as pessoas ou fiéis aproveitavam as festas religiosas para se reunirem e para trocarem mercadorias.

Francisco ficou com os olhos arregalados ao ouvir o som que bravejava de um Alto-falante: - Vende-se; Precisa-se; Compra-se; Aluga-se! Ficou ali por alguns minutos a observar a presença de muitos fregueses. Percebeu que aquilo era uma mina de ouro.

Passou dias e noites com aquele zunido na cabeça: Vende-se; Precisa-se; Compra-se; Aluga-se!

Como a pobreza faz miséria, Francisco não pensou duas vezes. Ficou de tocaia próximo de uma casa. Quando uma criança ao sair da casa, ele a pegou e levou para a praça da feira. Segurando a criança pelo braço, gritava: “Vende-se esse pretinho bonito, dentes claros, sem defeitos e limpo, cheirando leite”.

Meses depois...já tinha uma casa de leilão na praça!

Francisco fazia a triagem nas celas, os escravos eram expostos para que famílias abastadas escolhessem um membro com as características físicas consideradas adequadas à época a um trabalhador escravizado. Aqueles que não se encaixassem e não fossem escolhidos por ninguém podiam ser assassinados. Havia dois tipos de leilões; aqueles que vendiam pelo maior lance e o “pegue e vá”.

Nos jornais, todos os dias tinham anúncios de seu comércio:

100U000 Réis

Vende-se uma escrava parda, cozinheira, costureira, engomadeira e rapariga. Quem a quiser comprar procure na rua da Igreja nº 25, à direita, na esquina dos Pecados Mortais (trecho da atual Bento Martins).

Quem quiser comprar uma molequinha nova (escrava-criança) cozinha o ordinário. Quem pretender comprar dirija-se a rua do Arvoredo a casa nº 13 e ali achará com quem tratar.

Infelizmente ou felizmente, Francisco se tornou um homem frio sem escrúpulos, desonesto e sem caráter.

Mas como a vida é uma lição para todos nós, Francisco foi crucificado por alguns escravos e exposto na praça com a seguinte legenda no topo da Cruz: - “pegue e vá”.

Estêvão Zizzi
Enviado por Estêvão Zizzi em 29/01/2021
Código do texto: T7171565
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2021. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.