Em tempos de Pandemia 11

Em Tempos de Pandemia 11

Levantou na segunda, seis da manhã. Teria até as nove para realizar compras no supermercado, reporia o estoque na pequena dispensa, itens para alimentação, para higiene, e limpeza. Buscaria as roupas na lavanderia, e o carro, deixaria para revisão na concessionária, voltando de veículo de aplicativo.

Estar sozinha nos últimos dias desmontou-a para estar na rotina, comia de marmitex, a faxineira foi dispensava, realizando a limpeza da casa aos domingos.

Na saída rápida pela manhã, compraria os ingredientes para o rosbife prometido a Walter, retiraria uma encomenda nos Correios, passando na irmã somente para dizer um olá. Se desse tempo.

Nove e quinze da manhã deveria estar a postos em frente ao computador realizando o primeiro atendimento remoto, encerrando os trabalhos ao meio dia, tendo uma hora de almoço, retomando as atividades depois das treze e trinta da tarde, acabando o expediente as dezesseis.

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Conseguiu realizar parte das tarefas, fez as compras, graças a uma amiga que saia do supermercado, emprestando a Elba uma máscara que havia comprado, para que pudesse entrar no estabelecimento, havia esquecido a sua em casa.

O carro, levaria para revisão no meio da semana, passando no correio. À irmã, iria ao final da semana.

Chegando em casa, mesmo que parecia infrutífera a ação, deixou as compras na sacada exposta ao Sol, iria adiantando na desinfeção, que se consumaria no uso do álcool setenta, quando tivesse um tempo no dia. Higienizou os produtos que dependeria do refrigerador colocando-os na geladeira.

Refez a maquiagem, trocou de blusa. Abriu a janela do quartinho que adaptou para o trabalho, ajeitou o vasinho que estava na soleira da janela, sentando em frente ao notebook.

Em poucos segundos, estava conectada remotamente junto ao administrativo da Instituição pelo google meed. A atendente a adiantou que tinha somente uma pessoa aguardando para ser atendida. Elba disse que poderia conectar a pessoa à chamada.

Quando Elba avistou a interlocutora, percebeu que era uma cadeirante, negra, olhos castanhos, pele maquiada, cabelos envoltos em um lenço em cores características da cultura africana, em amarelo, azul e lilás vibrantes, a expressão do rosto não indicava receios e nem medo, muito menos pedidos, mas os olhos diziam que a alma que ali habitava queria conversa, diálogo.

O tempo de profissão e a condição do serviço que exercia, levou Elba, vez ou outra, ser acionada para colocar-se no papel de mera ouvidora, muitas vezes compelida a posicionar-se como conselheira, era últil ao aprendizado dela, no caminho psico-socio-espiritual.

Dava pareceres, que muitas vezes auxiliava os necessitados a assumirem posições de adequação às próprias vidas, de modo que alguns saíam melhor significados, para si mesmos, de si para o mundo, e do mundo para com eles mesmos. E Elba, possuída de uma energia renovada, de que estava no caminho certo, na profissão certa.

Chegou pensar muitas vezes que atuava não no aspecto atípico de psicóloga, de socióloga, ou de filósofa, ou prestando assistencialismos no campo social, que era sua função, mas à pratica da empatia para com a vida do outro, ouvindo-o, dando a atenção que pedia, procurando enxergar a necessidade intrínseca no depoimento do necessitado, que muitas vezes era somente o desabafo, o pedido de aceitação, a procura de um olhar que fosse capaz de entender seu sofrimento, sua necessidade de interação.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 19/08/2020
Reeditado em 21/08/2020
Código do texto: T7040119
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