Em tempos de Pandemia 6

O suspiro entre um dia e outro, que correspondia entre seis da tarde e oito da manhã, era o período que Elba tinha para si.

No período do isolamento, ficando a maioria do temo só, buscava cuidar das plantinhas que havia comprado para adornar a sacada do apartamento onde morava.

Walter, seu companheiro, havia sido contaminado pelo vírus, trabalhava no setor de atendimento aos contaminados no Hospital.

Passou dias difíceis, sem ao menos poder vê-lo pr vídeo, quiçá, presencialmente. O companheiro fez uso de aparelho artificial de espiração, contudo, na fase aguda da doença, saiu do quadro severo repentinamente. Aguardaria mais quinze dias para vê-lo.

Quando saiu do centro de terapia intensiva, Walter quis fazer uma chamada de vídeo pelo Waszaap para vê-la , falar com ela. Quando conectaram-se, foi somente pranto. Walter estava muito magro, falando sofregamente. Sua fala trazia consolo, esperança, vida!

Dizia que precisava rever suas prioridade, precisavam estarem mais tempo juntos, não havia explicação para sua melhora repentina. Havia tido uma nova chance para vida.

O casal evitava até então falar sobre as questões transcendentes da alma. Walter, de família católica, Elba, protestante. Não frequentavam as respectivas religiões com assiduidade, muito porquê, o trabalho não permitia. Quando juntos, tratavam de assuntos adversos para não entrarem em atritos de valores, aboliram definitivamente a possibilidade de imporem conceitos e crenças um ao outro. Tinham horror ao fanatismo,ao sectarismo.

Elba adquiriu jardineiras em argila, plantando mudas de morango e hortaliças de quem gostava, um punhadinho de cada, cebolinha, salsinha, açafrão e manjericão. Além de um pé de limão cravo que comprou em vaso de jardim, instalado em outra extremidade do pequeno terraço contíguo à única sala do apartamento.

Dois vasinhos de cacto foi para a soleira da janela da cozinha, e um de violeta na pia do banheiro.

Passou ter necessidade de cores em casa, seus olhos pediam a recompensar à alma, da vida cinza de significado que passou pairar no ar, com mais intensidade nos últimos meses.

Não é que antes do transtorno do mundo não enxergava as mazelas que fervilhavam em meio a sensualidade que o mundo oferecia como ideal de vida, violência contra a pessoa humana, sujeira, imundície de toda sorte sempre existiu, sob os autdoor, dos carros importados, do luxo concentrado, e da riqueza nas mãos de poucos , por detrás do trabalho da moda, das invenções que a tecnologia oferece para facilitar a vida do cidadão, todo atrativo do mercantilismo.

A própria profissão não obstruía os canais internos de Elba para refletir sobre o insucesso da humanidade em vencer a pobreza, a violência, a falta de recursos para o pleno desenvolvimento da dignidade humano, aquelas condições de vida que favorece desenvolvimento da pessoa.

O fato é que ela não era diferente dos outros em meio a crise social estabelecida, teria que dar o tempero para a própria vida, e gostar. Trabalhava no olho do vulcão dos problemas sociais insolúveis. Se quisesse resolvê-los sozinha, sabia que poderia ser consumida pelo fogo irradiado deles. A crise social e psicológica desencadeadas pelo derradeiro vírus, pôs a si mesma como vítima.

A religião a qual frequentava estava à disposição para assistência remota, os cultos eram assistidos semanalmente pela internet. O contato com o grupo, somente pelo Watszaap. Mesmo assim, com os dias seguindo ao isolamento social, cada qual passou dar conta das suas individualidade, não relacionavam-se com tanta frequência.

A mudez de contato social imposto como meio para aplacar a disseminação do vírus, suspendeu os canais para o contato olho no olho entre grupos, amizades, sentires. O tato social como prática de fraternidade, estava no standbay.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 02/08/2020
Reeditado em 02/08/2020
Código do texto: T7024178
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