Em Tempos de Pandemia 4

Esfumaçava conceitos, deduzia possibilidades, concluía em caráter provisório o fato de que encontraria uma solução para tudo, desfazia expectativas, remontava esperanças, estilhaçava convicções conquistadas, que não teria uso nunca mais.

Eram os efeitos do vírus em sua psique, que chegou no mundo tomando lugar do comodismo da criticas prontas, das acusações recíprocas, do envenenamento dos canais que levavam às soluções dos problemas coletivos e individuais.

O isolamento interno levado a força para dentro de Elba, a expôs arriscar a saída para covardia, para o desespero, para a angústia, para o desistir do cuidar de si.

Frequentou o próprio ser assiduamente no passado, remoía o fracasso, seu, e como muleta, o do mundo, atuava sem a realidade fervilhando como no agora.

Foi devoradora dos livros que relatava o passado sombrio; das guerras, das pestes que acometeram o mundo, das perdas irreparáveis que atingiram a humanidade, batendo em retirada em curto espaço de tempo, milhões de almas desse orbe, pela bala da arma em punho pelos soldados dos dois lados, do canhão, da bomba atômica, da arma química, da peste que deu na batata, a gripe espanhola, doenças contagiosas de toda sorte, desastres naturais e outros males, destruindo sonhos, culturas, raças, civilizações que estavam enterrados pelo tempo.

Passou buscar acalentar a dor da derrota para o vírus, que até então, estava na luta de força com a liberdade de ir e vir do homem na Terra.

A medicina estava a buscar soluções imediatas para a interrupção dos estragos que se faziam crescentes no mundo, perdas humanas, gastos gigantescos com a saúde, prostrando os gigantes públicos que sustentava a área social da sociedade, fazendo as economias das nações esquentarem-se, movimentando a economia do mundo a serviço do custeio da reparação dos danos que a doença disseminada provocava.

Havia se valido do subterfúgio dos aconselhamentos passados pelos Coachs, que davam sugestionamentos para o comer bem, viver no novo modelo da família, do emprego, do auto cuidado com a pele, com a roupa, com a mente, com o outro.

Assistia às cerimônias religiosas que eram passadas em horários fixos na semana em cadeia nacional, lives dos cantores preferidos, videoconferência pelo google med, e o trabalho em horário reduzido como home office.

Sua vida foi quase que integralmente transportada para o mundo digital. Nas horas que tinha para si de corpo presente, por alguns dias, reboliçou os livros da escrivaninha de casa, até exaurir toda a ganância de respostas para o que estava acontecendo.

Tinha um namorido. Walter, era médico, passou viver em um hotel, tratava dos doente da pandemia, não o via há mais de quarenta dias, o contato era somente pelas conversas diárias por vídeo pelo WhatsApp.

O novelo de lã dos acontecimentos havia se desenrolado repentinamente. Espetado no vírus, que estava sendo disseminado para todos os cantos do mundo, culpados e inocentes estavam no mesmo emaranhado, sem a ponta da meada para encontro das soluções.

Quando Elba tinha ela para ela mesma, de corpo presente, queria abandonar a mente, estava como ressaca depois de um porre, tudo doía, não sabia se era do esgotamento do esforço excessivo da mente para acompanhar tanta informação, ou do físico por estar tanto tempo sentada diante do computador, junto ao stress.

Medo de ser contaminada ao contato com pessoas, com objetos, com o próprio ar que partilhava com o outro, na rua, no supermercado, com o moço da padaria na entrega do pão pela manha, a sobrecarga do inconsciente de estar vivendo o caos social estabelecido. Além da incerteza do amanhã.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 27/07/2020
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