Em Tempos de Pandemia 2

Teve ela para ela até passar perceber não haver uma alma na rua,, passava das vinte e uma horas.

Que saudade de ver gente! Aos montes!

O carrinho de churros na travessa da rua 8, o luminoso da casa de confetes, o aglomerado que existia no ponto moto táxi, as famílias nos carros,os ônibus urbanos circulando apressadamente, os autdoor estampando as propagandas com jovens bem vestidos esbanjando beleza.

Os únicos que não perderam suas expressões no frenesi do trânsito, foram os mototaxicistas, corriam mais do que nunca por entre os carros para a entrega que os esperavam, cada vez mais crescente.

Alguns, quando pareavam nos semáforos com Elba, denotavam suas expressões oculares aflitivas por detraz das máscaras, acelerando as motos em sinal de desespero, medo de chegarem atrasados e perderem a nova corrida.

A sujeira urbana havia mudado de tom, depois de mais de quatro meses do início do isolamento social, a estética e o cheiro da mistura do esgoto no riacho central da via principal de fluxo de carro, direção centro bairro, a poluição ganhava destaque pelo nariz, o cheiro da putrefação das fezes e detritos chegava mais intenso, sem o disfarce da luminosidade dos estabelecimentos, e a movimentação de pessoas e carros.

Era inconteste que a cidade havia perdido o colorido que o capitalismo mantinha até então, via-a nua, suja, expondo suas vísceras sem disfarce, destacando mazelas sociais antigas.

Andarilhos e pedintes que cresceram em número, moribundos e desvalidos sentados nos bancos e praças públicas, entregues as suas neuroses, quem sabe, fuga.

O urbanismo, principalmente nas áreas verdes e praças de ruas dos bairros mais distantes das regiões de maior concentração de riqueza, muitas delas abandonadas, matos crescidos, bancos destruídos, sem ninguém.

Todo envólucro trabalhado por Elba para trazer ao seu corpo o conforto comprado sem uso, não afastou a realidade que invadiu o interior do carro e, a aferreceu.

Resolveu ir até a avenida da parte alta da cidade, região que detinha a maior número de pessoas com concentração de riqueza e bens.

Dona das lojas de grife, expunha os produtos mais caros, na altura da condição financeira dos habitantes local. Contudo, também havia sido passiva ao impregnar dos efeitos que a pandemia causou, a vibração apática para o consumo, luzes e cores reluzindo com um aspecto amorfo, obtuso, sem força para convencimento para o ter.

Elba chegou a casa da irmã disposta retornar com brevidade. A mensagem subliminar dos efeitos da quarentena na ambientação social e econômica na cidade, a levou para o pensar coletivo.

Queria chegar logo em casa, tirar aquela roupa, descansar, dormir mais uma noite, retomar à cultura imposta da paciência para viver nas horas, aguardando tudo passar.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 21/07/2020
Código do texto: T7012917
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