Um Causo De Um Casal Díspar (2ª parte- final)

Não demorou tanto para que a paixão jovem se transformasse em um desassossegado namoro. Eles estavam seguros com a decisão, só não imaginavam as dificuldades que cercavam um namoro recheado de diferenças imensas que os dois não notavam ou não viam como tão grandes, já que estavam sob as vendas do afeto.

Mas, era simples de perceber que aquilo não tinha futuro. Para Folayan chegar em casa e mostrar Isabella para sua mãe, nada custava. Era bem provável que a estudante de direito, bonita, educada e grácil cativasse rapidamente a família. Todavia, para Isabella as coisas eram muito mais complexas.

Como aquela moça que poderia um dia casar-se com um vice-diretor, cargo que seu pai também ocupava, chegaria para os familiares apresentando Marcos Folayan? Ele era apenas um trabalhador pobre, negro, sem 2° grau e que não tinha o requinte da jovem. E é possível que todos pensem: Mas o mundo já não é mais o mesmo. Ah! Doce ilusão! Fosse Folayan de outra cor e de um estrato social a mais, talvez pudesse deleitar-se dentro dos abraços macios da amada.

Nem as amigas de Isabella reconheceriam aquele romance. " Ora, não é preconceito, mas esse encanto logo passa" diriam. Ninguém conseguia imaginar o príncipe encantado de Isabella como sendo Folayan.

E não podemos dizer que Isabella não tentou. Ela fez até bom uso das palavras, mas não pôde se indispor com todos que a cercavam por um amor tão complicado. Folayan entendeu. Sabia que aquilo era uma loucura desde o dia que pensou em fazer companhia à jovem recém-assaltada. Tivesse sido outra moça da mesma vivência de Isabella, acharia que ele também estava tentando se aproveitar.

Essas coisas que mexem com os sentimentos são muito difíceis. Mas quando mexem com dinheiro, racismo e estrutura social... elas já se tornam impossíveis. Nem Camões ou Jane Austen poderiam juntar um casal díspar, porque não seria romance, seria suicídio.

Eu lhes disse que eram comuns, mas não lhes disse que era uma história simples. Sempre tem um quê de coerção social por trás. Porém, "o enredo termina como deveria terminar", disse o pai de Isabella quando conseguiu junto a outras pessoas que tinham um "pingo de juízo" tirar essa ideia estapafúrdia da cabeça da jovem.

Eles tiveram um final feliz! Longe um do outro e com conceitos de felicidade distintos. Isabella conseguiu virar advogada, bem de vida, viajada e permaneceu rica. Folayan continuou trabalhando para o resto da vida, mas teve uma vida decente e um pouco menos pior que a dos pais. Cada um seguiu seu caminho e a paixão ficou por ficar, porque eu não sou uma romancista e não consegui convencer ninguém de que o amor é o mais importante.