Métus versus Persíveri

Em meu peito, vivem dois povos, duas nações soberanas, que em um dia de profunda tristeza, romperam os laços que ainda os unia. Mas isso foi há muito tempo... Um tempo em que a sabedoria de Equilíbrio, monge mestiço, era ainda prestigiada e seguida cautelosamente. Até que, numa emboscada, ele foi mantido prisioneiro e escravo por uma das tribos que angariava dominar e difundir o terror pelo mundo com base nos seus ideais. Desde então, tudo mudou e o caos reverberou.

Eles são povos abstratos. São povos sem retratos. Povos não encontrados por nenhum aventureiro desbravador. São povos que vivem no âmago de nossas almas, travando batalhas como as que ocorreram em Estrada do Sofrimento e Vale da Esperança. Essas sim foram batalhas memoráveis, no sentido mais truculento da palavra.

Um dos povos se chama Métus, originado do medo mais perverso que reside na mente dos seres e ocupa qualquer território por onde passar, já a outra civilização se denomina Persíveri, tradicionalmente oriunda da inabalável vontade de superação e do desejo de alcançar a felicidade genuína. Sempre que os integrantes de qualquer uma dessas tribos se encontram, inicia-se uma devastadora Guerra repleta de conflitos fatais. Seja por vingança ou por motivos banais, a Violência reina nas aldeias de Métus, ordenando ataques relâmpagos em seus tanques mortíferos aos mais indefesos de Persíveri. É covarde, mas se repete, descontroladamente, todos os dias.

Enquanto toda essa devastação toma conta de meu peito, uma sensação sombria de tormento cresce e domina pouco a pouco minha mente: o medo da própria existência. Uma forte angústia me aflige de repente, quando tudo parecia estar bem... E quando eu tentava outra vez sorrir com sinceridade, os povos se preparavam para a Dança da Luta. Sim. Lá estavam eles. Corpos nus pintados de cores vibrantes. Preto e vermelho estonteantes espalhados feito a pele das cobras corais. Tambores batendo alucinantes, gritos ensurdecedores, flautas tocando descompassadas. Uma verdadeira cerimônia ou uma verdadeira algazarra?

De seus olhos transbordava amargor. Os guerreiros já estavam exaustos. Mas Métus continuava a explodir bombas de ansiedade nos campos e cidades. Enquanto isso, os persiverianos empunham seus escudos em defensiva, pois eles não queriam continuar aquilo. E os mais sábios cansaram de ver partirem jovens robustos e saudáveis sem nenhum sentido. O sentido já havia se perdido no tempo, assim como a esperança se esvaia imersa na maldade.

Certo dia, os Persíveri resolveram enviar a mensageira Paciência ao encontro dos Métus, tendo como pretexto a adoção de medidas diplomáticas em busca de apaziguar as relações entre as tribos inimigas. No entanto, o verdadeiro objetivo era resgatar Equilíbrio da insanidade a que ele foi lançado. Dessa forma, a chegada de Paciência ao palácio metusiano foi bem sucedida, mas, como o já esperado, tiveram o pedido de apaziguamento negado, pois Métus queria, loucamente, cada vez mais poder. Entretanto, Paciência estava preparada para aquele momento e tinha consciência de que suas ações iriam definir o rumo de seu povo.

Sozinha, Paciência estava diante dos guardas reais que a confrontavam furiosamente. Ela então cerrou os olhos e respirou profundamente até que a dor no meu peito fosse sumindo. Isso fez com que o exército de Métus fosse enfraquecido temporariamente. Aproveitando-se disso, Paciência correu à procura de Equilíbrio e o libertou. E, instantaneamente, as mágoas que me afligiam deixaram de existir, e os meus lábios começaram a sorrir. Monge Equilíbrio estava aqui e eu o sentia com todo o meu corpo.

Isis do Vale
Enviado por Isis do Vale em 25/06/2020
Reeditado em 25/06/2020
Código do texto: T6987898
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