Tatá na Jaguaribe 40

Apenas descansou o corpo, dormiu poucas horas. Dirigiu para o velório tão logo amanhecer.

Chegando, multidão aglomerou na entrada do Hospital; amigos distantes, alguns viajaram o dia anterior , outros a noite toda para estarem naquela manhã de despedida.

Os espaços iam sendo aberto para que Tatá fosse acomodada bem próxima ao caixão, horas depois, iniciaria a cerimônia religiosa. Seria realizada a despedida cerimoniosa do ente querido. Nela, entoado cânticos fúnebres, oração, e a palavra voltada à reflexão sobre o fim, e o consolo.

Vó Ninita estava um pouco fora de si, chorava baixinho sentada ao lado do caixão, as primas, foram se amontoando em volta do caixão, acarinhavam a mão do avô desconsoladas.

Tatá não ficou escape, à medida que seu olhar encontrava olhos que sintonizavam com seu íntimo na dor da despedida, chorava baixinho copiosamente, sentia que era entendida pelo alto e pelos que ali encontravam-se.

Amigos debruçavam sobre seus ombros chorando a saudade, sentia escorrer as lágrimas do interlocutor em seu rosto.

Na intimidade, somente ela, em última instância, era sabedora do diálogo com o amor incondicional que se estabeleceu em seu interior, entre ela, Deus e o avô.

Se existe um sentimento que vem misturado amor e dor no coração, é o que reinou. Falou com Deus naqueles instantes. Sim! Por mais que o pensamento lógico não entenda este modo de conversa na vida oculta no caminho espiritual, no momento da cerimônia fúnebre, Tatá viveu a fala da Alma com Deus no aprendizado, sentiu canalizar reciprocidade de afeto com o avô numa instância supra física. Ele estava ali em algum lugar, em alguma dimensão, chorando junto na despedida.

Não pode ser! pensou Tatá ao chegar um dos tios de Tatá pouco antes da cerimônia fúnebre começar. Informou que teriam que retirar o caixão do avô de onde estava, a fim de colocá-lo mais próximo ao corredor de entrada.

Naquele que o caixão estava, ficaria difícil realizar a cerimônia de despedida, o corpo ministerial, que o avô fazia parte, estava presente, eram muitos, necessitavam estarem envolta do caixão para o início do Rito Fúnebre.

Tatá quis impedir, não entendendo de imediato a necessidade da remoção do caixão, saberia somente depois que era para melhor acomodar os presentes. Afinal, estava sensível por demais com realidade do fim.

Com muito custo, numa conversa velada e delicada, o Tio mais velho convenceu-a da necessidade da mudança de lugar do caixão.

Sobretudo, analisando o ocorrido posteriormente, a mudança de local do lugar do caixão, veio como que entrelaçar num continuum no tempo quântico divino, com o sonho de Tatá dias antes, onde foi antecipadamente no velório do avô e na chegada, um transeunte havia sugerido a necessidade da mudança do caixão, para que assim ele ficasse mais próximo dos que velavam seu corpo.

E naquele outro espaço, além do presbítero, que deu início ao serviço de funeral, em volta do caixão ficaram os membros do corpo ministerial, e a família.

Ouvia-se somente aquele que discursava, junto, um silêncio carregado de completude. Tatá percebeu que não estavam sós, uma densidade de força era emanada em volta de si, como que anjos, seres celestes davam aporte para que a angústia pela separação na carne não tirasse o lugar da aceitação no coração de Tatá.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 07/10/2019
Código do texto: T6763479
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