Tatá na Jaguaribe 34

Naquele dia, a angústia quis tomar conta de Tatá, a aflição era tamanha. Tinha conversado com uma das enfermeiras, foi dito que o avô se mantinha silencioso, não via nele revolta, blasfêmia.

Dormiu a noite, mesmo despertando na madrugada, não realizou a meditação como de costume, sua mente estava sôfrega, besuntada de impotência para auxílio ao avô no extremo sofrimento, ansiava pela Providência Divina.

Sentou ao lado da cama, orou o “Pai Nosso”, deitou e dormiu novamente. Antes que amanhecesse foi elevada a um estado que ficaria em seu ser, revelando antecipadamente o fim da vida do avô.

O revelar, viu-se andando em direção a entrada de um velório. Quando se aproximava, avistou uma grande multidão, uma transeunte a interceptou dizendo: “ Esta vindo ao enterro do seu avô? “. Tatá respondeu: “Sim.”

A moça mais que depressa pediu a Tatá que fosse providenciar a retirada do caixão do avô de onde estava alocado, que ficaria melhor mais próximo dos que o velava.

Tatá saiu correndo a procura do funcionário do velório, passando em meio a multidão de amigos, havia muita luz no ambiente, pessoas chorando, outras, cantando cânticos fúnebres, em estado de despedida amorosa.

Não encontrava o funcionário, momento em que se depara com Sr. Benito vindo em sua direção, em um Terno marrom acetinado, com aparência bem mais jovem, tinha muito pavor em seu semblante, desespero em sua expressão.

Foi intuído em Tatá que aquele era o avô, não no corpo físico, mas no envoltório astral. Tatá paralisou, permanecendo onde estava. Vovô aproximando, meio que desorientado, olhou em Tatá com muito pavor.

De inopino, de forma determinada, com poder e força, como nunca experimentado em seu ser, disse ao avô: “Vai Vô!! Vai Vovô! Vai embora! Vai com Deus!

O avô olhou em Tatá ansiosamente, virou as costas e saiu em direção a parte externa do velório.

Destemidamente, a neta saiu apressadamente atrás do avô para ver onde ele iria. Quando sai no terraço do velório, o avô está parado em frente ao local.

Tatá olha em sua face, tinha tomado outra expressão instantaneamente. Nem bem percebeu o começo do sorriso do avô, o mesmo desapareceu de sua frente.

Imediatamente após, surge no lugar onde o avô estava, um vórtice muito grande e luminoso, como que surgido do nada. Depois de aberto como um portal, surgiram enfileiradas, fotografias com momentos envolvendo o avô, muitas antigas, em preto e branco.

Tatá confirmou mais do que nunca, nesta surreal experiência, que o cronômetro divino, a medida do tempo e do espaço, a tecnologia que memoriza a vida de cada ser vivente, é infinitamente superior a esta infantil utilizada na Terra.

Depois de desperta, Tatá estaria convicta de que o Registros Akáshicos possam realmente existirem, aquela não localidade onde os místicos afirmam conter todos os eventos, pensamentos, palavras, emoções e intenções humanas que já ocorreram no passado, no presente ou no futuro.

Não sabe quanto tempo, qual foi o tempo, e muito menos o que memorizou do que foi apresentado em imagem da vida do avô naquele estado onírico.

Não eram fotos de papel, em arquivos como de computador, ou de um álbum de fotografias, mas as imagens vinham em sequência, uma após outra sendo trazidas aos olhos de Tatá através daquela circunferência luminosa posta diante de si, logo após o avô ter desaparecido como num passe de mágica.

À neta foi revelado um trato superior de respeito, amor, cuidado, conhecimento.

Na ocasião, Tatá não viu anjo, arcanjo, seres de luz, mestre, nenhum imediato do Alto para levar a ela aquele espetáculo. Havia somente ela e o revelar, a história da(s) vida(s) do avô em imagens.

Tatá, à medida que aproximava-se daquela circunferência para ver mais de perto as imagens, aquele círculo luminoso diminuía. Até que a última imagem foi apresentada.

Como em câmera lenta, a foto, de uma substância como daquelas mostradas em slides, foi levemente levantada e aumentada, para que Tatá pudesse apreciá-la melhor.

Após, aquele vórtice deu um estalar, diminuindo, e desaparecer. Tatá foi sentido lentamente de volta ao corpo. Acordou.

Como o estar no corpo físico é um aprisionamento! o peso do corpo foi sentido de imediato, mesmo deitada.

Não tinha dúvida, Deus Pai estava levando seu avô. Chorou muito, mas o choro era de compreensão. Deus a concedeu, mesmo que num momento difícil, o espetáculo amoroso, o trato glorioso e requintado, e ao mesmo tempo, minucioso que tem com um ser vivente, num simbolismo que a deixou num estado de aceitação.

Chorou muito, depois de alguns minutos, recompondo depois de tanto, enviou uma mensagem em áudio para as primas pelo WhatsApp, relatando o sonho, e as preparando sobre a possibilidade da partida do avô.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 27/09/2019
Código do texto: T6755634
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