Tatá na Jaguaribe 31

Acordar depois daquele sonho, foi como ter voltado de uma escola de iniciação aos estudos do Código de Ética Parental.

E o mestre, como que invisível, vivendo no veladouro da Alma; conduziu a aprendiz a um espetáculo que unia o passado e o presente, escolhida a cena em meio às infinitas possibilidades de relacionamentos de parentesco com o avô.

Como pôde? Tatá na condição de mulher do início do século XXI, indo procurar o avô em meio a uma batalha ocorrendo como fosse em um mundo pertencente a séculos atrás?

Foi nítida a mensagem, Tatá poderia estar ferindo o código de ética do viver e deixar viver, tentando convencer o avô de valores sobre o processo de sofrimento na doença, que de repente não eram os dele para a busca da paz.

Passou a manhã sem conseguir elaborar argumentos, analisaria doravante o avô numa ótica nunca vista. Remasterizou-o no pensar, buscou nova vestidura para o seu estar no coração, de modo que fosse permitido a ele ser na sua inteireza, sem impor condições.

Nunca vovô foi tão aceito por Tatá como a partir daquela manhã de quinta feira. O amor incondicional que há tanto Tatá buscava aprendizado, teve sua fala doce.

O respiro foi diferente, quando o viu no leito na visita à tarde. Apesar da cena triste de vê-lo magro, com o corpo se atrofiando, e respiração difícil, sentiu mais compassiva. Chegou numa tranquilidade amorosa, não quis perguntar muito, o saudou com a paz de Deus, ele respondeu Amém, era nítido que estava votando dia a dia para seu interior.

O avô não quis conversa, Tatá não ficou triste, ficou ao lado dele, que continuou dormindo, ficando no local por mais de hora.

Algumas visitas que chegaram naquele dia, Tatá pedia a compreensão que não iria acordar o avô, pois necessitava do sono da tarde, havia dormido pouco a noite.

Ao final da tarde, o avô ainda de olhos fechados, Tatá deu um beijo em sua mão esquerda, saindo sem incomodá-lo para despedida.

Como passou ficar fácil pensar no avô como uma Alma única, com seu roteiro, sua história, suas vontades, seus amores e temores, vindo de um ontem, que necessariamente não fora o mesmo de Tatá em aprendizagem.

Tatá concluiu que os laços de consanguinidade e ancestralidade, apesar de estarem entrelaçadas as do avô, as experiências e valores que cada um tiveram como base e estrutura de pensar e agir nesta existência, não eram os mesmos.

Houve um desatar dos laços do apego na vontade de Tatá, de querer ser entendida pelo avô, de querer modelar o querer do avô ao seu modo.

Todos estes acontecimentos, levou tatá conhecer um pouco dos bastidores para obter acesso ao sentimento sublime do amor incondicional ao outro, exigia como pré requisito, respeito à pessoa humana, à sua integridade e independência física, emocional, mental e psicológica, de ser o que , como e quando quiser.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 24/09/2019
Código do texto: T6752968
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