Tatá na Jaguaribe 26

Na ocasião da oração, Sr. Benito quis presidi-la, realizando a direção como que para muitos, numa solenidade própria, somente dele.

A voz mudou para aquela de sempre, solene, num timbre grave, de verdadeiro ocupante de um cargo ministerial religioso. Não parecia naquele momento que tinha acabado de receber a sentença da morte anunciada.

Orou, suplicou, rogou ao Deus Pai que o livrasse do cruel destino. O fim. Chorou copiosamente, como não havia feito antes.

Ao certo, a intimidade com os presentes, nutrida por uma amizade de anos, o amor compassivo deles em comungarem com o amigo no sofrimento, levou-o a desmontar-se do homem religioso, que tinha reposta para tudo, no que se refere às questões últimas da existência.

Foram embora. Tatá ficou alguns segundos a mais, logo, as outras primas pediram para que ela saísse, a fim de entrarem para ficarem com o avô, permanecia somente um acompanhante por vez, e dois visitantes.

Naquela tarde, chegou em casa exaurida de força, não aquela de costume, proveniente do esgotamento físico pelo esforço repetitivo, mas no campo superior, sentia como que tivesse sido aspirada parte do seu ser, ficando um pouco dela com o avô. Queria auxiliá-lo a estabilizar-se na fé, para que, seja qual fosse o caminho, não se extraviasse da segurança e entrega da própria vida a Deus.

Estava perdendo o domínio sobre o equilíbrio emocional para lidar com as próprias emoções e sentimentos naquele processo de adoecimento do ente querido. Queria doar equilíbrio, força para o avô, gastando suas próprias, que, sobremaneira, poderia lhe fazer falta.

Passou pressentir que poderia aumentar o nível do estresse pelo esforço emocional desmedido, tinha consciência o que isso tinha ocasionado em outros carnavais, antes da doença que acometeu seu corpo físico. Depressão, depressão!

Quem iria ser por ela? O magnetismo do estado amoroso Divino em seu coração corria o risco de ser ofuscado. Isto, jamais! E as outras netas, os filhos, a família do Sr. Benito, como poderiam contar com Tatá naqueles instantes delicados?

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 20/09/2019
Código do texto: T6749596
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