O Preço da Maturidade

Descobri que não era mais uma criança quando passeava pelo parque municipal, no centro de Belo Horizonte, quando um adolescente veio ate mim e disse: “- Moço, me da um trocado?!” e isso foi um susto pra mim. Durante quase toda a minha infância, usara calçados ganhados, nem sempre novos, mas quase sempre ganhados; um menino se aproxima e pede dinheiro justamente para mim? Fiquei atordoado. Não me senti confortável, mas percebi que eu não era mais um moleque. Noutra feita, um patrão me chamou ao escritório e ofereceu aumento salarial, me senti tão mais velho! Mas, não vale, porque minha filha estava a caminho de nascer, então precisava daquele aumento. Foram duas das varias situações que me fizeram sentir mais velho, e é mesmo estranho quando as circunstâncias nos fazem perceber com mais idade acumulada.

Certa vez, notei uma mulher muito bonita dentro do ônibus. Cabelos e olhos negros, pele alva e batom rosa, livro de literatura nas mãos. Já que não havia lugares disponíveis para me assentar, direcionei-me para contemplar aquela beldade de perto, pensei em tornar aquela viagem ao menos prazerosa com uma conversa agradável em boa companhia. Nossos olhares se cruzaram dentro do salão lotado do ônibus, parecia coisa do destino. Alguns solavancos, uma cotovelada de um passageiro mais arrogante (que ignorei); nova busca para ter certeza que não havia sequer um banco onde pudesse me sentar e, enfim, cheguei perto da moça de olhos negros.

Acho tão lindos os olhos negros. Aquele mistério, um nada a se interpretar. Os belos e raros olhos verdes possuem significados, os azuis, seus mistérios, os castanhos, tanto os claros quanto os escuros, tem suas interpretações reveladas nas poesias. Os olhos negros não possuem significado, não possuem revelações, não permitem que sejam decifrados. Olhei para ela e ela sorriu, era uma menina ou uma mulher? Uma expressão pueril, um sorriso cândido e uma boca sedutora; o mundo todo começou a transcorrer em câmera lenta, seu rosto serelepe demonstrava afeição por mim, os lábios dela se moveram lentamente, o contrário do meu coração que disparou ante a comunicação cinésica entre mim e a linda mulher a minha frente. Estava esperando que as primeiras palavras dela fizessem-me decolar como se eu estivera dentro de um ônibus espacial: "- Tio, dá sinal pra mim?"

As palavras dela me deixaram com vontade de evaporar...

Paulo Siuves
Enviado por Paulo Siuves em 05/08/2019
Reeditado em 06/12/2023
Código do texto: T6713353
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.