A MENINA E O CÃOZINHO

Na beira do matagal ouviu ganidos. Parecia o choramingo de uma criança. E era. Um cãozinho recém nascido se batia dentro de uma caixa de papelão.

A menina estendeu suas mãos e aninhou o pequeno animal em seus braços. Sentindo o calor do afeto da menina, o cãozinho parou de chorar. Seus olhos estavam cobertos por uma película escura e seus pelos estavam arrepiados. Tremia de frio ou de medo, não sei.

Apertando o animalzinho contra peito a menina levou-o para casa. Queria ficar com ele, alimentá-lo, protegê-lo.

Quem não gostou muito foi a mãe da menina:

- Ei, o que é isto, Glorinha? Não quero saber deste animal aqui em casa.

- Ah, mãe. Ele estava abandonado, com fome e com frio. Eu não podia deixá-lo lá na rua.

A mãe levou a mão ao pequenino ser e ele lhe lambeu os dedos como que suplicando, “me deixe ficar”.

E o cachorrinho foi ficando e ficando e... ficou. Ganhou até nome: Xodó.

O tempo foi passando e o pequeno cão agora já era quase adulto, havia crescido, seu pelo era brilhante e sedoso. Era companhia inseparável de Glorinha. Brincavam desde o amanhecer.

À noite, Glorinha, furtivamente, ia buscar o Xodó para levá-lo para a cama. Dormiam juntos. A mãe fazia de conta que não via.

Xodó acompanhava Glorinha até a escola. Ficava no portão aguardando a saída da menina para irem juntos para casa.

Xodó agora já tinha três anos. Sete menos que Glorinha. Mais do que nunca a amizade entre os dois era grande. Corriam pelas campinas atrás das belas borboletas e quero-queros. Nas manhãs primaveris corriam por entre as flores respirando o ar das aventuras.

Um dia Glorinha amanheceu com febre alta. Seu corpo toda doía. Não teve vontade de brincar com Xodó. O Doutor veio visitá-la e recomendou repouso absoluto. Glorinha não saiu mais da cama e Xodó, com olhar de tristeza, passava o dia no tapete ao lado do leito.

Glorinha não melhorou. Teve que ser internada no hospital. Xodó seguiu a ambulância e se instalou na porta do nosocômio. Dias se passaram. Glorinha internada e Xodó sem comer.

Glorinha se foi, não resistiu. Xodó acompanhou o féretro. Passou a morar ao lado da sepultura de sua maior amiga.

Um dia, Xodó percebeu que aquela dor e tristeza haviam se acabado. Voltou a sentir alegria. A agonia que ele sentia deu lugar a uma paz e tranqüilidade. Abriu os olhos. Não estava mais ao lado da sepultura. Alguém o havia levado para um outro lugar. Um lugar silencioso e calmo.

Sentiu um afago em sua cabeça. Um carinho gostoso que ele havia sentido tantas vezes na vida. Aquele perfume também não lhe era estranho. Era o perfume de Glorinha. Novamente estavam juntos. Que alegria.

Entre brancas nuvens uma menina e um cãozinho corriam céleres rumo à eternidade.

CLEOMAR GASPAR
Enviado por CLEOMAR GASPAR em 08/03/2019
Reeditado em 08/03/2019
Código do texto: T6592867
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