Costura logo isso, João!

- Anda, eu já não te falei pra você costurar logo isso, João?

- Calma, Vida, você é muito chata! Nós temos tempo. Depois eu costuro.

- Isso é o que você pensa. A dona Morte não tem hora pra chegar, e quando ela me levar embora quero ver o que você vai fazer.

- Fica de boa que essa dona Morte aí não vem tão cedo!

Alguém arromba a porta

- Olá, boa noite.

- Quem é você?

Pergunta a Vida

- Eu sou a dona Morte, e vim te levar comigo.

- O quê? Você não pode levar ela embora!

- Claro que posso, João, e vou.

- Mas, eu não sei o que fazer sem a Vida aqui. Não dá para continuar. Não sei onde enfiar as mãos.

- Isso já não é culpa minha. Acho que a Vida te alertou por muito tempo para que você costurasse seus bolsos não é?

- Sim, mas eu não achei que você viesse tão cedo.

- Me desculpe, mas eu não costumo avisar.

Agora, ou você finalmente costura os bolsos para enfiar as mãos e aprende a se adaptar sem a Vida do seu lado, ou fica com os braços soltos, vagando no ar sem direção.

- Vem cá, o que eu ganho costurando os bolsos?

- João, eu sempre vou vir, isso é certo, pra todo mundo, uma hora ou outra. Costurando os bolsos você tem segurança, conforto. Com as mãos nos bolsos você tem a firmeza pra continuar mesmo sabendo que um dia eu vou chegar.

E a Vida, que até então, ouvia tudo sem nada falar, acaba se despedindo

- Ouve a dona Morte, João, costura logo esses bolsos. Mesmo cruel, ela sabe o que diz.

Tamiris Pires
Enviado por Tamiris Pires em 09/06/2018
Código do texto: T6359828
Classificação de conteúdo: seguro