Horizonte de eventos
Em minhas retinas negras contemplei tua forma
Vazia,
Pálida,
Sombria,
Distante.
Um corpo sinuoso vindo de submundos psicodélicos.
Me absorvias por inteiro,
A alma,
Os sonhos,
A plenitude.
Mas deixei que ficastes mais um pouco.
A companhia que se segue após a solidão é
Boa e
Virtuosa,
Aquece o corpo.
Dei a ti também um pouco do meu brilho,
Vi que nada podias enxergar.
Agora, em minhas retinas negras, tomas forma:
És bela,
Corada,
Cintilante,
Humana.
Um corpo de luz.
Não importa-me de onde vens, não te julgarei.
E ela ficou.
Imensas partes de mim compartilhei com ela e ela parecia gostar,
Tais coisas pareciam dar-lhe vida.
Todavia, o mal em seus olhos não estava totalmente morto.
Certa era, quando os sóis se esconderam atrás das luas, a vi despertar.
A procura de vida para consumir,
Almas para se alimentar,
Corações para devorar.
Minhas retinas nada mais podiam ver, até o brilho havia sido perdido.
Sua forma se aproximava cada vez mais, só podia a sentir puxando meus pés:
Esticando-me,
Esticando-me,
Esticando-me.
Eu sabia que não poderia sobreviver.
Havia alimentado um monstro
E agora ele me devorava.
Meu corpo se foi.
A matéria rompida,
Os átomos esfacelados.
Mas no âmago dela,
Eu pude ver toda a minha alma.
E depois que cruzei o espaço-tempo
Retornei num universo estranho.
Dentro de mim carregava aquelas sombras nefastas,
Ela hoje habita em mim.
Com seus desejos perversos
E a vontade de devorar outros mundos.
Entretanto, tenho-a bem trancada no meu peito.
Para que não vejam o mal que amei,
O mal que amo,
O mal que não consigo deixar para trás.