Horizonte de eventos

Em minhas retinas negras contemplei tua forma

Vazia,

Pálida,

Sombria,

Distante.

Um corpo sinuoso vindo de submundos psicodélicos.

Me absorvias por inteiro,

A alma,

Os sonhos,

A plenitude.

Mas deixei que ficastes mais um pouco.

A companhia que se segue após a solidão é

Boa e

Virtuosa,

Aquece o corpo.

Dei a ti também um pouco do meu brilho,

Vi que nada podias enxergar.

Agora, em minhas retinas negras, tomas forma:

És bela,

Corada,

Cintilante,

Humana.

Um corpo de luz.

Não importa-me de onde vens, não te julgarei.

E ela ficou.

Imensas partes de mim compartilhei com ela e ela parecia gostar,

Tais coisas pareciam dar-lhe vida.

Todavia, o mal em seus olhos não estava totalmente morto.

Certa era, quando os sóis se esconderam atrás das luas, a vi despertar.

A procura de vida para consumir,

Almas para se alimentar,

Corações para devorar.

Minhas retinas nada mais podiam ver, até o brilho havia sido perdido.

Sua forma se aproximava cada vez mais, só podia a sentir puxando meus pés:

Esticando-me,

Esticando-me,

Esticando-me.

Eu sabia que não poderia sobreviver.

Havia alimentado um monstro

E agora ele me devorava.

Meu corpo se foi.

A matéria rompida,

Os átomos esfacelados.

Mas no âmago dela,

Eu pude ver toda a minha alma.

E depois que cruzei o espaço-tempo

Retornei num universo estranho.

Dentro de mim carregava aquelas sombras nefastas,

Ela hoje habita em mim.

Com seus desejos perversos

E a vontade de devorar outros mundos.

Entretanto, tenho-a bem trancada no meu peito.

Para que não vejam o mal que amei,

O mal que amo,

O mal que não consigo deixar para trás.

Marcos Amorim
Enviado por Marcos Amorim em 17/05/2018
Código do texto: T6339233
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