O Quarto Escuro. Cap 6, livro. Esboço.

O escuro do quarto

Barreira-BA, 02 de outubro de 1974

Nós seguíamos o comandante, era meu irmão mais velho, o fonhonhon de breu, seu apelido. Éramos os soldadinhos, uma escadinha de crianças dessa forma, o mais caçula tinha 6 a, um tinha 8 anos e eu 10 a e o outro tinha 12 e o outro 14 anos e o comandante tinha 17anos.

Seguíramos uma trilha um tanto longa e íngrime caminhada passando por plantas, capins urtigas e o sol era escaldante. Era muito divertido íamos marchando e batendo continência.

Até chegarmos à beira do rio

Acordei na madrugada, e uma imensa escuridão tomou conta do quarto e logo as imagens tornaram-se claras e vi silhuetas humanas a passearem em meu campo visual.

Cinco crianças e um adolescente, ficara cada vez mais nítido e os movimentos me chamaram atenção. O mais velho era franzino e mirrado, cabelos crespos e curtos e pela forma como dava os comando, era o líder do pequeno grupo. O mais novo, o K, tinha apenas seis anos e era um pouco magro, mirradinho e moleque…muito brincalhão. O segundo, o W, com 8 anos era um pouco barrigudinho, tínhamos cabelos longos da cor de milho e tinha o apelido de Corina, Marina, por conta das suas madeixas douradas, que assim se deixou crescer por uma promessa feita por nossa mãe para que ele ficasse bom quando estava doente. Eu tinha dez anos era magrela, cabelo curto por causa dos piolhos é só andava de calcinha, era muito pequena pra idade, parecia ter menos idade. O outro era P, esse tinha 12 anos era cabeçudo, o seu apelido era “cabeça de nós todos”, o P que era de 14 anos, tinha nascido prematuro e não crescera muito, quase do tamanho do P. O mais velho era esperto inteligente, irrequieto, poderíamos chamar hoje hiperativo. Era o líder do grupo e todos seguiam seus comandos, obedecendo tudo que o mais velho falava.

Cap 7

A trilha do Rio

Aquelas crianças seguiam um rapazote apressados e por vezes pareciam marchar num ritmo candenciado de obediência e entusiasmo. Em alguns momentos parávamos para matar passarinhos com as baladeiras, cada qual tinha uma e mesmo embaixo do sol escaldante, era uma das aventuras mais belas da minha infância. Passávamos de pés descalços, amassando folhinhas e essas memórias me fazem até ouvir os galhos se quebrando Como se fosse hoje. Pezinhos já calejados…o W tinha um comportamento diferente dos outros que andavam de calção, andava pelado e quando ia tomar banho no rio levava o calção para quando fosse entrar no rio.

—Atira vai, deixa de moleza, uma guerreira não teme nada...

—não Walnezinho, eu tenho dó do bichinho

— é sobrevivência, você tá na selva e vai ter que comer...você vai querer morrer de fome , soldado?!

—tá, tá, atirei, errei...

—De novo, vai...

Quando me dei por conta, já tinham três passarinhos que meus irmãos tinham matado com estilingue. Sentamos embaixo da árvore, fizemos fogo. Comemos os passarinhos e o pior tínhamos acabado de almoçar. Sempre íamos nas nossas andanças depois do almoço, pois estudávamos de manhã. Era sagrado seguir a trilha e até encontrar outros caminhos para chegar ate o rio.

Impossível esquecer aqueles caminhos que me embalaram a infância, onde ao longe ao avistar o Rio, corríamos igual loucos, gritando alto e se jogando nas águas maravilhosas daquele manto de águas frescas e límpidas. Seguíamos uma sequência de se jogar e ao sermos levados pela correnteza nos agarrávamos às ingazeiras para descansar e depois continuar nadando igual as piabinhas que nos mordiam ....éramos felizes, éramos completos, éramos irmãos e éramos crianças. Aprendíamos a vencer os perigos e por sorte ou proteção divina o mais novo se mantinha vivo.

Quando o sol começava a se pôr, saíamos do rio e os meninos espremiam os calções e o Waldir tirava o dele e voltávamos pra casa...esse era o combinado com mamãe, voltar antes de escurecer.

Cap 11

Fico aqui pensando, o que fizemos de nossas vidas e vemos o tempo passar em meio a tantas realizações. Percebemos que muitas coisas que pensamos acontecer, não se deu. Projetos que se realizaram, outros não. Como seria se tivéssemos uma bola de cristal que nos fosse mostrado o que iria acontecer ao longo da vida? Experiências que nem imaginávamos passar, que nos fizeram crescer, chorar, sorrir. É como se tivesse uma atração de pessoas que tivessem que conviver conosco, que fizessem parte das nossas etapas. E assim compreender a vida física como algo que esvai pela sua natureza desde o nosso nascimento até a maturidade. São momentos enriquecidos e cheios de nossa presença, em que nos vemos cercados por pessoas importantes, como nossos pais, irmãos, amigos, inimigos. E muitas outras que topam conosco pelas andanças que fazemos.

Tem momentos na vida que parece não termos muita consciência desse viver e o tempo passa, é quando percebemos, que poderíamos ter tido mais atenção em alguns episódios, ter vivido mais... Ter buscado mais aproximação de pessoas que eram importantes e nem percebemos.

Tem algumas pessoas que marcam as nossas vidas e as guardamos na lembrança, sempre, e tem pessoa que nem lembramos mais.

Estou aqui sentada embaixo de uma árvore. Ela é tão alta. Nossa como as folhas são lindas.

CAPÍTULO 12

O LIVRO CONVERSA COM A GENTE

Mergulhar na leitura é algo transformador e mágico.

Para conversamos conosco mesmo, para nos compreender, é preciso nos ouvir intimamente. Conversar com o livro não é diferente, precisamos nos infiltrar nele, e sonhar junto, ou sofrer junto ou vencer junto, sorrir, gargalhar, sofrer e amar, e pensar que fazemos parte dele e ele é parte de nós. As vezes me escondo nos capítulos, tal qual num labirinto e é difícil encontrar o caminho de volta. Como é bom quando encontramos um paraíso no livro, mas há momentos que nos deparamos com o inferno, então preservamos nossa pessoa, olhando de fora, no entanto sentimos profundamente ante o drama do personagem, nos separando do contexto, depois nos mesclando de novo. A leitura é algo mágico e inspirador nos transporta a dimensões inimagináveis e a nossa mente presa àquelas páginas nos fazem vagar ou voar para outras paragens. Assim é a leitura põe para fora a poesia que existe em nós ela organiza nossos versos interiores, é uma combinação de cores, sons e perfumes. Ler é fazer um giro em torno de nós, olhar em várias direções, aprendendo a caminhar por si mesmo, acolhendo o que é bom e confortado e construtivo e jogando fora os resíduos desagradáveis, vou assimilando o mundo à natureza e os conhecimentos nesse movimento do parado e quando começo a planar emana de mim a luz suave diáfana e pura da sabedoria, que em silêncio mental distribui alguns fachos, e na fala para o ouvir de alguém, selecionando naturalmente o melhor para o ouvido do outro, assim como o bebê faz seu giro para aprender a caminhar, ele aprende a ouvir melhor e a falar as primeiras palavras..

Quando nos entregamos à leitura nos rendemos a possibilidade de encontrarmos um pote de ouro e este ouro é eterno. Podemos viajar, conhecer lugares, culturas diferentes, pessoas,, artes. E podemos viajar no tempo, no espaço e até em outros planetas.

Quando conversamos com o livro é que tiramos melhor a seiva, não fazemos isso passivamente, somo ativos e a leitura é um processo mental dinâmico, é como se voássemos sem sair do lugar. Vamos entender agora a escrita, são tantas as formas de se escrever. A mão é um instrumento maravilhoso, é por ela que derramamos um pouco de nós pelas cirandas das palavras. A escrita nos detém em nossos ímpetos e suaviza na folha em branco o modelo que escolhemos, pela fixação do pensamento em uma imagem viva e quente que nos aquece e conforta. Como é bom ler, como é bom limpar os nossos faróis e fazermos acender outros. Quem tem livros e os lê, tem muito. Quem não os tem e não os lê, tem coisas. E escrever está conectado a tudo isso. É quando encontramos linguagem para expressar nossas impressões, emoções e conhecimento. Nossas experiências, simplesmente!

Em meados de 1978, tinha acabado de fazer quatorze anos, fui convidado pelo meu irmão mais velho dois anos que eu, para ir a uma balada na casa de dois amigos Gêmeos, eles tinham quinze anos. Ao chegar lá havia muitos adolescentes os pais deles nos receberam e nos ofereceram, refresco e bolo. A música era mágica soava em alta as discotecas e a festinha iluminada com as luzes piscantes. Bem à “Embalos de Sábado à noite”!

Reijane Brasileiro
Enviado por Reijane Brasileiro em 24/02/2018
Reeditado em 12/08/2018
Código do texto: T6262837
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