No Escuro do Quarto!

Barreira-BA, 02 de outubro de 1973

Nos seguíamos o comandante, era meu irmão mais velho, o fonhonhon de breu, seu apelido. Éramos os soldadinhos, uma escadinha de crianças dessa forma, o mais caçula tinha 6 a, um tinha 8 anos e eu 10 a e o outro tinha 12 e o outro 14 anos e o comandante tinha 17anos.

Seguíramos uma trilha um tanto longa e ingrime caminhada passando por plantas, capins urtigas e o sol era escaldante. Era muito divertido íamos marchando e batendo continência. Até chegarmos à beira do rio.

Assim acordei e uma imensa escuridão tomou conta do quarto e logo as imagens tornaram-se claras e vi silhuetas humanas a passearem em campo visual.

​Cinco crianças e um adolescente, ficaram cada vá mais nítido e os movimentos me chamaram atenção. O mais velho era franzino e mirrado, cabelos crespos e curtos e pela forma como dava os comando, era o líder do pequeno grupo. O mais novo, o K, tinha apenas seis anos e era um pouco magro, mirradinho e moleque…muito brincalhão. O segundo, o W, com 8 anos era um pouco barrigudinho, tínhamos cabelos longos da cor de milho e tinha o apelido de Corina, Marina, por conta das suas madeixas douradas, que assim se deixou crescer por uma promessa feita por nossa mãe para para nossa Senhora para que ele ficasse bom, quando estava doente. Eu tinha dez anos era magrela, cabelo curto por causa dos piolhos e só andava de calcinha, era muito pequena pra idade, parecia ter menos idade. O outro era P, esse tinha 12 anos era cabeçudo, o seu apelido era “cabeça de nós todos”, o P, que era de 14 anos, tinha nascido prematuro e não, crescera muito quase do tamanho do P. O mais velho era esperto inteligente, irrequieto, poderíamos chamar hoje, hiperativo. Era o líder do grupo e todos seguiam seus comandos, obedecendo tudo que o mais velho falava.

Cap 3

A trilha do Rio

Aquelas crianças seguiam um rapazote apressados e por vezes pareciam marchar num ritmo candencial de obediência e entusiasmo. Em alguns momentos parávamos para matar passarinhos com as baladeiras, cada qual tinha uma e mesmo embaixo do sol escaldante, era uma das aventuras mais belas da minha infância. Passávamos de pés no chão amassando folhinhas com nossos pés e podíamos ouvir os galhos, pra mim como se fosse hoje, quebrando-se sob nossos pés. Pezinhos já calejados…o W, tinha um comportamento diferente dos outros que andavam de calção, pois ele só andava pelado e quando ia tomar banho no rio levava o calção para quando fosse entrar no rio.

​—Atira vai, deixa de moleza, uma guerreira não teme nada...

—não Walneyzinho, eu tenho dó do bichinho

— é sobrevivência, você tá na selva e vai ter que comer...você vai querer morrer de fome , soldado?!

—tá, tá, atirei, errei...

—De novo, vai...

Quando dei por conta já tinha três passarinhos que meus irmãos tinham matado com estilingue. Sentamos embaixo da árvore fizemos fogo. Comemos os passarinhos e o pior tínhamos acabado de almoçar. Sempre íamos nas nossas andanças depois do almoço, pois estudávamos de manhã. Era sagrado seguir a trilha e até encontrar outros caminhos para chegar ate o rio.

​Impossível esquecer aqueles caminhos que me embalaram a infância, onde ao longe ao avistar o Rio, corríamos igual loucos, gritando alto e se jogando nas águas maravilhosas daquele manto de águas frescas e límpidas. Seguíamos uma sequência de se jogar e ao sermos levados pela correnteza nos agarrávamos às ingazeiras para descansar e depois continuar nadando igual as piabinhas que nos mordiam ....éramos felizes, éramos completos, éramos irmãos e éramos crianças. Aprendíamos a vencer os perigos e por sorte ou proteção divina o mais novo se mantinha vivo.

​Quando o sol começava a se pôr saíamos do rio e os meninos espremiam os calções e o W, tirava o dele e voltávamos pra casa...esse era o combinado com mamãe, voltar antes de escurecer.

Reijane Brasileiro
Enviado por Reijane Brasileiro em 26/01/2018
Reeditado em 01/08/2018
Código do texto: T6237203
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