casa de adobo - Julim

Julim morava com seus pais, quatro irmão e sua vó, numa casa velha na rua da Mula Assada, bem perto do rio. A construção era de adobão vermelho, o reboco esburacado, com manchas que desciam até o chão, enegrecida pelos vazamentos e pela fumaça do fogão a lenha.

A parte da casa que Julim mais gostava era do quintal, grande e com muitas mangueiras. Gostava de correr entre as arvores com dois paus cruzados amarrados brincando de avião. “Queria dirigir um avião de verdade” dizia nesses momentos a Quinca , seu irmão mais velho. Na ultima vez ventava forte, trovões e relâmpagos .“Entra menino, vai chover” – gritava Vó Guinela, lá da soleira.

Julim nunca viu tanta chuva, tanta força vinda do cèu. A natureza era um monstro na noite.

Estavam todos no quarto da mãe e logo ouviu-se um estrondo. Foram pra sala num pulo. Era a parede da cozinha que caia. Todos correram, pegaram o que puderam e foram pra casa de Carmelita.

No outro dia voltaram assustados, ressentidos do que ia encontrar. Dorinha segurou os meninos forte pelas mãos.

“Espera, deixa seu pai primeiro pra ver como tá”. Estava tudo bem. Só aquela parede e nada mais. O resto da casa permanecia igual. Os retratos ainda na parede. Aliviou o olhar e descansou um pouco da tensão, mas ainda estava assustada. Não tinha pra onde ir. “Ainda mais com esse tanto de menino”, respirando fundo.

- Mãe, porque que a gente não vai pra outra casa ?

- Pergunta pro seu pai. Ele que tem que responder essa pergunta.

Julim se calou, percebeu que teria mais um problema se continuasse cobrando. Passava os dias agora sentado na porta da rua. Conversava com os andeiros, as vezes outros irmãos vinham ao seu encontro.

“Vem comer,Julim” “Vem tomar banho Julim” Julimmmm, vem dormir”

“Agora, Julim” .

“Julim, porque nunca mais voce dormiu antes de mim? – indagava Ziquinho quase dormindo.

- mãe, to com medo da parede do quarto cair.

- Vem abraçar sua maezinha. Essa num cai não. Tem sustento forte. A outra caiu porque molhava demais. Ta vendo aquele pau lá no canto? Ele é bem enterrado no chão. Pode dormir que eu estou aqui...

Aprendeu a chorar escondido, baxinho pra ninguém ver . Tinha vergonha de vó Guinela. Ela não chorava nunca e dizia sempre que gente corajosa não fica chorando por ai. Ele se sentia mal,porque só ele tinha medo. Julim jã não ficava alegre, pensava sempre nas paredes, nas chuvas, nos imãos. Percebia agora as rachadura e o tremor da casa quando passava um caminhão. Julim estava apavorado...

Numa noite de muita chuva, todos foram para o quarto , sua mae ficou ao redor dos meninos, o pai e vó Guinela, no outro canto. o silencio respirava ofegante. Coração batia forte a cada trovão. As crianças choraravam, o pai ralhava forte pra deixar de frescura..

Ficaram assim durante algumas horas. Até que Quinca gritou alto:” Estou molhando!” – muita agua descia pela parede. A mae estorou de raiva do pai.

No meio da gritaria sobressai um outro barulho: forte e definitivo.

Julim agora é um aviador.