O conto da Mendiga
Quão mendiga fui...
A imaturidade a qual eu não queria abandonar
Arrastou-se por anos como uma sombra a me seguir
E me levava por caminhos que me levavam ao drama
O drama,por sua vez, grudava em mim como goma de mascar
Eu gritava ao mundo que amava quando na verdade, só queria ser amada
Aceita, cuidada, aprovada...
Sem ao menos perceber que não amava a ninguém
Só a mim mesma!
Apenas eu sofria
Somente eu era justa
A verdade absoluta me pertencia
Todos deveriam rir das minhas piadas
Quem não se rendesse aos meus encantos,era possuído pelo mal
E assim os anos foram passando sem que eu me desse conta
E o espelho tornou-se meu pior inimigo
Pois mostrava que minhas atitudes já não combinavam com a imagem refletida...
Passei a evitá-lo a qualquer custo
Então a saúde afastou-se de mim por um tempo
E a dor física me sacudiu e disse: acorde!
Relutei simplesmente a ignorando
E a dor aumentava a intensidade me obrigando a prestar atenção
Não sei se me isolei ou se as pessoas foram se afastando
Mas o fato é que a solidão se aproximou
E intensificou ainda mais a dor
Ás vezes as duas também se afastavam de mim e eu respirava
Mas inconscientemente eu as chamava de volta
Para dar sentido ao drama, se não o alimentasse,certamente morreria
Lentamente, mais alguém se aproximava: a loucura!
Disfarçada de depressão foi chegando de mansinho
Então, eu abandonei o drama para dar mais espaço á solidão
Então um dia a dor intensificou-se a tal ponto
Que concordei em acordar só para não sofrer aquela agonia
Acordei e agora?
Agora abra os olhos e não diga nada
Apenas observe ao seu redor
Depois de observar, feche-os novamente e sinta
Lembre-se do cheiro, da cor e do sabor
Sim, farei isso mas,com quem eu falo?
Levante-se,vá para a frente do espelho e faça as pazes com ele
Tá, mas ainda quero saber com quem eu falo
Espelho ,espelho meu,existe alguém mais confusa do que eu?
Silêncio...
Eu fui ao espelho mas ele não quer falar comigo.
Fez as pazes com ele?
Está bem, voltarei só porque você me pediu
Não pedi,você me perguntou o que fazer depois de acordar
Espelho,espelho meu vamos fazer as pazes?
Silêncio absoluto...
Eu tentei mas o espelho está de mau humor e não me responde
Ei, onde você está?
Porque não me responde? O que eu fiz agora? Estou fazendo tudo o que me disse para fazer e nem uma resposta mereço? Vou lá limpar o espelho...
Ei,você está aí?
O espelho está limpinho mas ainda não me respondeu.
Espelho. Espelho. Por favor fale comigo, preciso fazer as pazes com você para que a dor e a solidão não judiem mais de mim.
Vou me deitar e começar tudo de novo para ver se esqueci de fazer alguma coisa.
Então, fiquei muito tempo em silêncio.
E quanto mais silêncio eu fazia,mais me esvaziava.
Me percebi cheia de amarras e sujeiras encruadas se desintegrando
Lá ao longe eu percebia que alguém se aproximava
E não vinha só, outros seres a acompanhavam
Continuei em silêncio pois sabia que assim estava dando certo
Quando eu tentava questionar,aqueles seres paravam
Eu silenciava e eles voltavam a caminhar em minha direção.
E quando estavam bem próximos,reconheci a alegria que estava á frente da auto confiança e auto estima sorridentes. Um pouquinho mais atrás vinham também a lucidez e a maturidade.
E ao me abraçarem senti uma força invadir-me
Era muito estranha aquela sensação
Pois eu ouvia o choro sentido de alguém se despedindo
Era o medo. E aquela força se fazia mais presente e mais intensa e então eu disse: já sei o que fazer!
Voltei ao espelho e com toda a sinceridade do meu coração declarei: eu te amo! Eu te amo muito! Nunca se esqueça de que eu te amo...
E o espelho sorriu para mim ao refletir o AMOR.
Anne Ferrer
10/11/2017