Encontro

   A tarde do parque era de primavera. Suaves raios de sol atravessavam a folhagem das árvores e acariciavam seu rosto.
   Sentada no banco mais próximo da entrada, olhava de vez em quando  na direção do portão.Chegara pontualmente às quatorze horas, como combinado.Tinha conferido o horário  no relógio que ficava bem à frente do lugar escolhido para a espera.
   Naquela  outra longínqua primavera do passado, havia uma rua escura e palavras esquecidas que teimavam em não retornar à memória. Um nó, uma lacuna...
   No ar, o canto dos sabiás do parque. Muitos sabiás;  e o cheiro de eucalipto espalhado pela brisa.
   Quatorze horas e trinta. Distraiu-se observando um grupo de pessoas que vinham pela alameda. Dois homens com máquina e filmadora, um casal e uma criança, um bolo de aniversário nas mãos de uma senhora. Os fotógrafos orientavam as poses  e movimentos. Foram avançando lentamente  para o fundo do parque.
   O que se disseram na rua sem iluminação, naquele dia ? Por que isso a incomodou tanto por décadas ?
   Folheando o livro  que havia trazido para dar de presente, para se fazer conhecer melhor,ouvia risos de crianças vindos dos balanços. Um bando de periquitos ruidosos instalou-se no coqueiro às suas costas.
   Quinze horas. Começou a inquietar-se com a demora. Olhava agora com mais frequência para a entrada do parque.
   Qual seria a verdade daquele acontecimento do passado? Existiria verdade? Imaginação e tempo acrescentam, diminuem, transformam...
   Uma mulher passou conduzindo dois pequenos cães. O canto dos sabiás recomeçou ,insistente e belo. Antigamente pássaros silvestres não eram vistos em zonas urbanas, só pardais, desaparecidos agora.
   Quinze horas e trinta. Levantou-se. Abandonou o livro sobre o banco. Quem sabe alguém o recolhesse para ler. Iniciou, então, a longa caminhada da volta, envolvida numa mistura de sensações doces e amargas. Decepção e alívio ao mesmo tempo.