Tobias, o Prisioneiro

Eu me chamo Tobias e eu sou um prisioneiro.

Eu vivo em cárcere. Minha casa é uma prisão. Eu vivo sob a guarda de uma espécie de carcereiro. E é esse carcereiro que me dá água, comida, que provê tudo que eu preciso pra viver. Nesse aspecto, eu até vivo decentemente.

Não me falta nada, além de liberdade.

Sabe como é? Eu não escolho o que eu vou comer, eu não escolho, exatamente, quando eu vou comer. Não que eu me importe muito com isso, eu gosto do que eu como e normalmente até sobra. Às vezes até como algumas coisas diferentes, umas coisas muito mais gostosas.

Mas o que eu queria mesmo era ser livre.

Ser livre pra sair e ir pra onde eu quisesse na hora que eu quisesse. Mas não é como se eu não saísse nunca. Eu saio, mas só quando meu carcereiro permite. Não sei se existe um cronograma, parece mais que ele me deixa sair quando bem entende, quando lembra.

Mas isso ainda não é ser livre.

Às vezes eu fico aqui dentro olhando lá pra fora, vendo os outros passando e indo a todo canto. O que eu não daria pra estar no lugar deles... Já pensei em fugir numa dessas saídas. Mas todos os planos que eu faço, eu faço aqui dentro. Quando eu posso sair, quando eu já estou lá fora, eu sempre retorno sem pensar muito.

Talvez eu goste de estar preso.

Eu tenho um certo apreço pelo meu carcereiro. Depois de tanto tempo vivendo sob a guarda dele, eu acho que criei um vínculo. Afinal, ele me alimenta e cuida de mim. Se não fosse o fato de ele me manter preso aqui...

Se não fosse por isso...

Bom, se eu não estivesse preso e fosse dono das minhas ações, eu até retornaria, como sempre retorno. A minha vida é boa, no fim das contas. Talvez, se eu não estivesse preso, ele não me provesse alimento ou água, talvez eu não fosse bem-vindo aqui pra dormir todas as noites.

Eu definitivamente gosto da minha condição.

Numa dessas saídas eu tive a chance de encontrar um desses livres que vão e vêm quando querem. Acontece que a vida dele não era essa beleza que eu imaginava. Ele não tem mesmo um teto e nem comida, muito menos água, tudo que ele tem é a liberdade dele. Com certeza ele trocaria essa liberdade pelas condições que eu tenho. Não é? Será que ele trocaria? Será? Eu não cheguei a perguntar.

E eu? Eu dividiria meu cárcere?

E se meu carcereiro prendesse outro infeliz aqui comigo? Talvez a água e a comida fossem divididas. Talvez minhas saídas acabassem menos frequentes. Bom, a comida e a água são fartas, de qualquer forma, dividir não seria um problema. E, tendo companhia, ficar aqui dentro não parece tão ruim assim.

Mas o motivo maior seria outro...

Eu dividiria meu cárcere só pra livrar outro infeliz dessa maldição que é estar livre. Eu sou muito mais livre do que ele, na verdade. Ele pode comer quando quiser, mas não tem comida. Ele pode ir pra onde quiser, mas não tem exatamente pra onde voltar. Não parece mais tão bom assim.

Eu prefiro estar preso.

Pra ser sincero, eu gostaria que todos estivessem presos como eu. Presos sem passar fome, sem passar frio, com um carcereiro que se importa com o nosso bem... Talvez eu nem devesse chamá-lo de carcereiro...

E falando no Diabo...

Lá vem meu carcereiro. E veio com a coleira na mão, acho que é hora de uma daquelas saídas e hoje eu acho que ele vai comigo. Hoje o dia está lindo, aliás. Depois conversamos mais, e, já que estamos mais próximos...

Pode me chamar de Toby.

Pedro Paz
Enviado por Pedro Paz em 15/08/2017
Código do texto: T6084593
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.