QUILÔMETRO 75

QUILÔMETRO 75

Luciana Carrero

Após a festa das crianças na associação de moradores, o zelador juntou uma lancheira que estava sob a mesa. Abriu, para identificar e uma voz infantil saiu de dentro dela, dizendo: quando receber minha carta, entregue à minha mãe, que trabalha na prefeitura. O zelador jogou a lixeira longe e fugiu, apavorado. Ao dobrar a primeira esquina, esbarrou num menino com uniforme de carteiro, que lhe entregou um bilhete sujo de sangue e levantou voo. Estava escrito: Mamãe, eu e papai estamos no quilômetro 75 da faixa. Nos encontre lá. O zelador se lembrou do recado da lancheira, criou coragem e foi à prefeitura, onde entregou o papel à secretária do prefeito, dizendo não saber para quem era. O telefone tocou e uma menina falou: Mãe, o bilhete é para você. Venha ao quilômetro 75. A mãe foi e levou a polícia. Não encontraram ninguém e voltaram para a cidade. Ao chegar em casa, a menina e o pai estavam saindo de automóvel e disseram que iam na sorveteria do quilômetro 75. Ela quis ir junto. Eles disseram: Não, vamos só nós! Você fica em casa, que nós temos uma surpresa para te dar, na volta. Dentro de quinze minutos, voltaram e a mãe perguntou: Então, qual é a surpresa? A menina disse: A surpresa está dentro da lancheira. Pode ficar com ela, não vou mais precisar. A mãe leu o bilhete: Você não nos viu no quilômetro 75. Volte lá e olhe para baixo. Ao terminar de ler, a menina e o pai desapareceram dali. No outro dia, de manhã, a polícia encontrou o automóvel no despenhadeiro, no quilômetro mencionado. A notícia foi: Prefeito, sua esposa e secretária, foram encontrados mortos em seu automóvel, que caiu no despenhadeiro ao lado do quilômetro 75. Sua filha, uma menina de seis anos, foi encontrada com vida e está na UTI do hospital da cidade. Contam os socorristas que, quando a encontraram, estava agarrada em uma lancheira, falando que era para entregar à sua mãe.