OBRIGADO POR ME APOIAR

O céu naquele dia estava nublado, eram mais ou menos duas horas e algum tempinho a mais. No justo momento em que comprava um pastel com suco de acerola, na pastelaria atrás do fórum Rui Barbosa, no centro de Itabuna, ela apareceu. Aparentava ter seus setenta anos ou mais e era linda, magrinha, um metro e pouca coisa, parda, boca sem dentes, rosto enrugado, olhos extremamente bondosos, corpo encurvado pelo tempo e duros serviços, pano na cabeça, roupa puída; Estava como hipnotizada: olhar dividido entre o trailer e seus dois reais na mão, quase podia ler seus pensamentos, sentir sua fome. Esperei ela me pedir ajuda, mas não o fez, em um momento de distração, sumiu. Nem sei o que senti, fiquei desapontado comigo mesmo, acho que fiz uma prece, algo por aí. Estiquei a cabeça para atrás do trailer, e novamente a mesma imagem, a insistência naquele lugar denunciava sua grande fome; Perguntei o que queria, e lhe paguei um pastel de frango e queijo, mais um suco de maracujá. Naquele instante tive a real sensação de que sobre mim os céus se abriam e o sol brilhava forte. Fiz esforço para não chorar, aquela preciosidade estava ali, pertinho e eu tive a honra de lhe fazer algum bem. Quantos dias de fome, de tristeza, abandonos, familiar e social aquela criatura não tinha passado? Pensei também, não sei porque, na telepatia latente em todos nós. Ao sair me disse essas palavras: Obrigado por me apoiar, Deus te abençoe. Fiquei encantado, lembranças e estrelas em volta de mim. A doçura daquele momento e as palavras ditas me fizeram perceber que o céu é uma relação, horizontal.