Vida

Sentou-se confortavelmente em sua melhor cadeira. Abriu o notebook e escrevia uma mensagem para Virgínia. Virgínia estava morando em Nova York. Ela tinha sido sua primeira namorada, seu primeiro amor. Na última noite que conversaram, Virgínia teria que escolher o romance ou o sonho. Ela escolhera o sonho. Ele a entendeu, mas esperava que ela escolhesse o sonho.

Em Nova York, pela manhã, Virgínia foi lembrada pelo bip de seu smartphone que havia uma mensagem. Era a mensagem de Carlos. Carlos ficara em São Paulo por causa do romance. Virgínia mandou-lhe um emoticon. Ela sabia que aquilo não soaria legal, mas ela precisava seguir o sonho. No departamento de seu curso da Columbia pedia informação à Estela, secretaria da coordenadora pedagógica.

Estela achava Virgínia muito bonita. Quando viu em sua ficha de matrícula sua origem brasileira deu um sorriso. Estela achava as brasileiras lindas. A tela do computador de Estela tinham duas mensagens, uma de sua chefe pedindo para desmarcar uma reunião e outra de sua mãe que ficara na Argentina. A mãe pedia notícias e dizia que estava cheia de saudade. Estela se emocionou.

Elizabeth fechou as persianas e esperou o feedback de Estela sobre a desmarcação da reunião. Estela mandou uma mensagem padrão confirmando sua solicitação. Elizabeth tirou os sapatos e forçou os pés sobre o grosso tapete. Levantou-se e foi até o bar e abriu uma cerveja. Voltou e deitou no sofá e ficou ali, olhando para o teto. Dormiu.

Madalena estava sentada em sua varanda. Bebia uma limonada. Conversava com Pablo, seu marido. Lembravam dos dias gostosos do passado. Lembravam de Estela ainda uma garotinha aprendendo a andar de bicicleta sem as rodinhas traseiras. Madalena não estava muito atenta ao que Pablo dizia, pois sua atenção se dividia com a tela de seu celular, pois esperava uma resposta de Estela.

Carlos formou-se em engenharia e foi convidado por um tio para ser sócio de sua construtora. Carlos foi bem sucedido e ganhou a confiança da família. A empresa de seu tio ganhou a concorrência para fazer parte de um grande projeto arquitetônico em Nova York. Alguns meses depois, Carlos partiu para a cidade que nunca dorme. Fez o check in no hotel e pela manhã seguiu para o local do projeto. Conversou com alguns amigos empreiteiros e depois seguiu sozinho para o hotel. Resolveu tomar um café numa Starbucks da Broadway.

Virginia terminara seu projeto de conclusão do mestrado. Entregara o projeto e o defendera. Virgínia concluíra o curso com um diploma da Columbia. Sonho alcançado. Algumas amigas e amigos a convidaram para comemorar numa boate do Brooklyn. Eles combinaram. Virgínia resolveu caminhar sozinha no fim da tarde sem poder acreditar no sonho alcançado. Ligou para casa, seus pais a parabenizaram. Em alguns meses eles estariam com ela em Nova York. Na Broadway resolveu tomar um café numa Starbucks e seguiu em direção ao romance.

Estela já tinha feito o check in de suas malas no La Guardia e agora aguardava a chamada para o embarque. Seu celular vibrou, era Madalena querendo saber onde ela estava. Ela lhe respondeu dizendo que já estava na sala de embarque e que em breve estariam juntas. Após quinze horas de voo, Estela afivelava os cintos obedecendo a ordem do comandante para iniciar o procedimento de descida. Seu coração acelerou.

Elizabeth olhou para a mesa de sua secretária e não a viu. Lembrou ter dado à sua fiel escudeira uma semana de férias. Jane era a secretária substituta. Ela sorriu para Jane e Jane lhe mandou um tchauzinho. Entrou em sua sala e como um ritual tirou os sapatos e afundou os pés no grosso tapete. Viu um papelzinho colado em sua tela de computador escrito: “muchas gracias”. Elizabeth sorriu.

Madalena e Pablo estavam ansiosos no saguão do Ezeiza. Pablo perguntou se ela queria beber alguma coisa. Aceitou. Sentaram num café e beberam, cada um, café com leite e bolo de cenoura. Pablo segurou a mão de Madalena e sorriu. Pagaram a conta e retornaram para o saguão do Ezeiza para esperarem a garotinha Estela. Madalena e Pablo com os olhos cheios de lágrimas viam sua menina descendo a rampa sorrindo, cabelo solto, sorrindo, sorrindo...

Rodiney da Silva
Enviado por Rodiney da Silva em 04/06/2017
Código do texto: T6018448
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