Enquanto a Insônia Perdurava.
Pensava naquelas situações absolutamente normais da existência humana, nos desentendimentos familiares comuns e necessários ao desenvolvimento do caráter, da pujança sólida de quem acorda todo dia dentro de um campo de batalha, coisas normais. Tudo normal. O eu natural, o silêncio matinal com os pássaros cantadores, na marginal encerrada entre latas e fumaça, do nervosismo diário, do carro que deixei de lavar, das contas que deixei de pagar naquele mês, da consciência e da inconsciência, dos porres homéricos com a Zileide e das palavras que nunca deveriam ser ditas, mas que o cansaço as disse por si no meio perdido de uma estrada de terra. Eram tantos problemas, disputas, rixas, resenhas, que as noites solitárias na cama se tornavam grandes e quase intermináveis monólogos de uma sombra. E isso era a vida! Esse era o seu brilho, o seu sentido sem rumo. Tínhamos que seguir adiante, essa era a regra, e ríamos de tudo isso porque sabíamos que iríamos morrer.