GLAM POP ROCK SHOW [Parte 2]

Emílio chegou em casa e já era noite, estava tão contente que desde o entrar no portão, ele já gritava para todos lados que tinha passado. Entrou e recebeu um abraço demorado e apertado de sua mãe, que lhe dizia o quanto acreditava nele. Seu pai levantou do sofá e foi cumprimentá-lo todo orgulhoso de seu filho. Para o jantar, todos os 3 reunidos a mesa juntos de Luiz que estava passando uns dias lá e também o desejou boa sorte.

- Então como vai ser, meu filho? Dia, hora, essas coisas? - Disse sua mãe.

- 20 de Março, mãe. Disseram que seria umas 8 horas da noite. - Ele respondeu.

- Vai ser um dia antes do dia da Síndrome de Down? - Perguntou seu pai.

- Nossa! Verdade, pai. Eu nem tinha pensado nisso. - Completa Emílio.

- E os dias do ensaio, você não pode estudar menos por isso. - Disse a mãe.

- Não tem problema, mãe. Os ensaios vão ser nas terças e sextas - Responde.

- 3 meses para uma peça, não é muito pouco? - Pergunta Luiz.

- Eu nem sei direito, no papel diz que partes dos cenários estão prontas e que a equipe que vai nos ensaiar, já trabalharam em outras escolas. - Ele diz.

Horas após o jantar, todos já tinha ido dormir porém Emílio permanecia acordado pensando. Estava tão orgulhoso mas a exposição da peça o colocaria em uma posição desagradável, ele que tanto tinha lutado para ficar quieto no colégio, encenaria uma peça que pais, alunos e professores iriam assistir. Ele pensava no quanto aquele garoto tímido e desajeitado iria acreditar e ficar feliz com o rumo que as coisas estavam tomando e como elas iriam mudar com a peça.

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Os dias foram se passando e com eles chegaram uma aura de tensão sobre Emílio. Não tinha mais que ir ao colégio e ficar em casa, agora ele tinha que comparecer aos ensaios da peça. Sentia falta da companhia de seus amigos, os outros atores com exceção de Thamires, ainda achavam engraçado o fato de um garoto portador de síndrome de down no elenco.

- Não fica tenso, relaxa, em. - Tenta acalmar.

- É difícil, Thamires. Geralmente fico escondido e aqui todos me olham. - Disse inseguro.

- Isso é ótimo, aqui vamos aprendendo a lidar com o público e com os colegas. - Completa.

- Eu não sei...parece mais que eles estão me fazendo um favor. -

- Então faça um favor a si mesmo: foco!. Faça o seu trabalho, evite pensamentos ruins. Disse Thamires.

Para ele, Thamires sempre foi alguém para se pedir conselhos e para motivá-lo a ser mais forte e seguro de si. Ela que tinha pai japonês e mãe paulistana, sempre enfrentava com as piadas sobre asiáticos sem parecer se importar. Era um exemplo para ele já que ela sempre parecia estar mais esperançosa e tranquila que todos.

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O carnaval tinha passado e os ensaios estavam de volta. Com isso Emílio voltaria para os amigos que tinha conquistado: a turma do teatro. Com os ensaios, ele foi compreendendo que todos ali estavam entre inseguros de si ou dos outros e com os exercícios, todos estavam se dando bem e muito ansiosos para que a peça fosse algo maravilhoso.

- Um mês quase, né? - Disse Diego.

- Menos, como o tempo vou, meu deus - Disse Emílio.

- Pelo menos vai ser logo, não vai ficar enchendo - Diz Thom.

- Sim, mas a galera do teatro é legal. Aposto que melhores que o pessoal da turma. - Emílio.

- Ah, sem dúvidas! Se pudesse trocar, até eu iria preferir memorizar falas - Disse Diego e todos riram.

Depois das voltas aos ensaios, todos os alunos poderiam ensaiar com os elementos que iriam para a peça. Já marcavam melhor os lugares e posições. E eles começaram a sair juntos também para pegar mais amizade e demonstrar certa ''liga'' em cena, ao invés de parecer ''deslocados sem afetividade''.

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Dia 20 de Março, era quase 7hrs e ainda faltava uns minutos para o começo da peça. Emílio dá uma pequena espiada e vê que o ginásio está lotado de rostos conhecidos como seus pais, Pedro e Luiz; seus amigos Thom e Diego, acompanhado de sua irmã Sandra e sua namorada Paula. Estavam quase todos que ele poderia se lembrar além dos ''colegas'' do colégio e aqueles que ele imaginava serem os pais deles.

Depois da espiada, ele volta para onde estão todos os atores e atrizes, os diretores e professores da peça. Também estavam alí os jurados que os escolheram e eles demonstravam estar muito satisfeitos com a evolução teatral de todos alí mesmo que tenham tido tão pouco tempo e tão pouca experiência.

A PRIMEIRA CAMPAINHA:

As cortinas se abrem e a peça oficialmente começa. A jornada de um garoto que descobre no rock e artes plásticas o seu destino para tirá-lo de seu lar abusivo e depreciativo. Emílio interpreta um dos ''caras'' que montam a banda com o personagem principal. Seu papel é fundamental, afinal com ele toda a ascensão da banda é finalmente conseguida.

Era carnaval fora de época, era bizarro, gótico e muito excêntrico; o que permitia o exagerado que era fundamente para descontar tudo o que tinham. Chocou alguns expectadores, porém facilmente eles entenderam que era para ser assim. Para ser notado, precisa ser barulhento e exagerado. Para ser livre como o personagem principal, precisa se tornar livre e não pedir pela liberdade.

Emílio entra um tanto nervoso em cena mas nada que atrapalhe seu rendimento. Nas cenas sem maquiagem, ele consegue notar os risinhos de algumas pessoas na platéia mas ele sinceramente não se importa com isso. Estava tão feliz e certo do que estava fazendo, ao olhar para seus amigos e familiares, ele sabia que estava no topo do mundo.

Quando a peça estava acabando, era também o momento na história que a banda fictícia se separava para cada integrante continuar seu rumo na vida. A música final e apenas Emílio continuaria no palco pois seu personagem continua na Música. Ao ficar sozinho, ele quebra o roteiro da peça ligeiramente ao abrir um cartaz escrito ''Por que como nos parecemos é mais importante do que aquilo que somos de verdade?'' e começa seu monologo até partir para sua música solo e encerrar a peça.

Ao fechar das cortinas, todos os atores voltam ao palco e ao serem ovacionados pela platéia, alguns dos recentes amigos de Emílio, empunham seu cartaz e fazem daquilo as suas palavras. E parece que as pessoas apoiam cada vez mais a mensagem ali contida.

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Ele só voltaria ao colégio na quarta-feira e já tinha ouvido de seus amigos que a peça foi um sucesso de aclamação e sua performance muito amada pelas pessoas. Ao voltar as aulas, Emílio ainda podia notar olhares tortos para ele e seus amigos, porém estava sendo tão cumprimentado e elogiado nos últimos dias. Ele notava que as pessoas tinham mesmo medo dele e que por isso era tão marginalizado. Porém ele tinha o coração aberto para receber novos amigos.

- Vocês acham que alguma coisa vai mudar? - Pergunta Emílio.

- Ah eu não sei, talvez por um tempo, Em - Responde Thamires.

- Eu gosto dos elogios mas só queria mais empatia. - Completa ele.

- Verdade, mas fazer o que se somos os X Men - Brinca Diego.

- Somos talentosos e bonitos, claro que as pessoas tem pena - Continua Thom.

- Talvez vocês sejam deslocados mesmo... - deu uma pausa e começou a gargalhar - por favor continuem assim - Diz Luiz para eles.

Era final de tarde e Emílio ainda se sentia tão feliz e orgulhoso. Ele tanto pensava que reconhecimento é bom quando isso começa com o orgulho e sensação de missão cumprida ao fazer algo. É muito bom ganhar reconhecimento dos outros, porém saber que deu seu máximo e seu melhor por algo é tão valioso quanto. E assim sentia-se mais completo que nunca.

Enquanto via o pôr do sol ao lado das pessoas que mais confiava e o faziam feliz. Saberia que por mais difíceis que sejam os tempos e as pessoas, tinha ao lado dele as pessoas certas para poder contar sempre além de ter o seu recém descoberto talento para descontar o que sentisse.

Epílogo:

Após continuar anos no teatro, Emílio ao lado de sua amiga Thamires, resolvem abrir a própria companhia deles para pessoas que geralmente eram evitadas para as peças e para aqueles que desejam uma tarefa extra após as aulas.

TEXTO E REVISÃO: Raphael Maitam

Seja bem-vindo para ler esse poema e mais outros no meu livro disponível no wattpad: https://www.wattpad.com/story/96435471-versos-por-aí

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