O homem que não conseguia chorar
Pobre de mim, miserável como sou, não bastando as desgraças que recaem sobre mim, sou um homem que não consegue chorar.
Os outros me dizem "Homem! Tu tens sorte de não conseguir chorar! Aí de nós que na profunda tristeza nos desfazemos em lágrimas!".
Tolos, eu penso. Mal sabem o peso que lhes é tirado, como alguém que após carregar durante muito tempo um balde de água pesado o despeja e se alivia de seu peso. Aí de mim, que carrego a muitos anos este balde, que a cada dia torna-se mais pesado, mais difícil de carregar...
Em orações secretas rogo ao meu Criador que me tire este peso terrível dos meus ombros, que me permita cair em prantos e chorar até não ter mais nada pelo que chorar.
Decidi que não poderia mais viver. Decidi que daria fim àquela tristeza sem fim...
Entro em uma loja. Comprarei veneno de rato. Uma mulher se aproxima de mim e pergunta o que desejo e logo em seguida sorri. O sorriso mais lindo que vi em anos. Meu coração dispara e por um momento esqueço o motivo pelo qual estava ali.
- Senhor? Passa bem?
- Sinto-me divinamente bem, senhorita... obrigado.
- O senhor deseja algo de nossa loja?
- Entrei aqui com um obscuro objetivo, mas após ver o seu sorriso sinto-me muito mais aliviado. Como se um peso que há muito carrego tivesse evaporado de minhas costas. Senhorita, perdoa-me, não quis assusta-la! Apenas diga-me seu nome e irei embora se assim desejar.
- Chamo-me Esperança, Senhor, e não desejo que vá embora. Fique! Converse comigo, pois poucos vem me visitar. Sinto-me sozinha. Faça-me companhia.
Sentei ao lado de Esperança.
Uma tímida lágrima escorreu de meus olhos enquanto animado, contava-lhe minhas histórias...