Aliás, é lindo

É bonito ver a aurora se levantando e trazendo consigo esperança, tão inocente e pura quanto cabe nos olhos de uma criança que por aí caminha, sempre contente a compartilhar com seus queridos, mesmo que um sorriso venha caro a lhe custar. Sem saber se come ou dorme, uma canção a sussurrar, ela sonha em se levantar, assim como a bela aurora que amanhã não demora, chega cedo a retornar.

Aquela criança nessa noite, teve um sonho muito intenso, sonhou que voava e aos montes via os campos florescendo. Lá de cima ela enxergava uma linda cachoeira, que riqueza aquela água, estava bem acompanhada, por enormes macieiras. Sentiu fome e decidiu descer, uma daquelas maças ela quis morder e sentir seu suco cobrindo os dentes, quando então de repente, de trás de um arbusto, viu uma silhueta, um homem alto e magro, com um ar muito amargo, a realizar sua faceta.

O tal do homem magro uma corda carregava, jogou-a por cima de um galho forte e apertando seu último nó, a soluçar ele chorava. Chorava de dor e também de rancor, fizera algo terrível e dele se foi todo o amor. Se foi o amor pela natureza, se foi o amor pela vida, essa que fora sofrida; Fora, porque não mais será, assim que sua tarefa terminar. A criança então o indagou, o porquê daquele choro, ele então a ela sem muitas voltas e de forma singela deu sua resposta em desaforo. Dizia que queria se ir, ir pra não voltar, pois de todo amor viu a vida se esfriar. Não mais os filhos ele tinha, nem seu cão nem sua esposa. Só lhe restara aquele campo florido com a cachoeira, rodeada por macieiras. – O acidente foi cruel, de uma só vez levou a todos e aqui estou, abraçado com o fel.

É bonito ver a alma humana, que mesmo no sofrido sorriso da criança traz aos similares a esperança, como a bela aurora, do começo dessa história. A criança tomou a corda e com um graveto fez um balanço. Pediu ao homem que a balançasse – Bem alto e forte, que eu alcanço! Recolheu duas maças e com o ele as dividiu, conversaram durante horas, e agora o homem chora, porque mais cedo ele sorriu. Sorriu porque se sentiu vivo e um discurso ele ouviu. A criança lhe dizia que a vida era feita de fases e mesmo que algumas não nos agradassem coisa melhor havia de vir, e num ciclo, faz-se sorrir, como aconteceu com ele, que morrera de fome numa noite e depois pôde voar e aquele homem salvar. Salvá-lo não da morte, mas da vida amarga, que não carrega nem alegria nem amor, acumulando toda carga.

É bonito ver a vida, em seus altos e baixos se encontrando.

É bonito ver a aurora, tocando a Terra e fazendo florescer esperança, como carrega o sorriso da criança. É bonito… Aliás, é lindo.

Marco de Souza
Enviado por Marco de Souza em 03/01/2017
Reeditado em 03/01/2017
Código do texto: T5870469
Classificação de conteúdo: seguro