O VIAJANTE NOTURNO CONTO 1

Sou um ser espiritual, quer do bem, quer do mal.

A minha vida é eterna não porque viverei muito, mas porque descobri como tornar cada pequeno instante em um tedioso grande instante. Eu chamo essa descoberta de: meu pequeno dom de absorver o todo!

No início tentei tirar minha vida. Tenho as cicatrizes do meu fracasso nos pulsos. Costumo dizer romanticamente que deveria ter usado gilete nova. Acham que em meu devaneio não clamei por um sinal divino? Alguma coisa? Qualquer anjo, demônio, um sopro. Estava disposto a dar o sangue da minha vida, para continuar beijando a inconsciência gelada da morte. Depois desse ato “corajoso” ele me achou e tomou de meu sangue e atou o laço do espírito. Acordei com luzes em meus olhos. Meus novos olhos; sensíveis. Não como os novos dizem: sensíveis a luz! Sensíveis à vida e a energia. Os ouvidos só conseguiam ouvir o som do pranto familiar. Família que tentei inutilmente lembrar, quem eram aqueles estranhos que choravam por mim? Como era mesmo meu nome? De alguma forma sabia que aquilo ali era um hospital. Ala psiquiátrica, apenas uma imagem era nítida em minha cabeça: o nojento que tomou do meu sangue.

A médica deu orientações aos estranhos familiares, ainda bem! Não agüentava mais ver tanto choro.

Como é mesmo a droga dos nomes?

Dane-se! Chamo a médica de gostosa, e tudo certo. Meu nome agora será:- Foda-se!

Sempre quis ser deus mesmo. Será que posso fumar? Beber algo? Será que faço essas coisas? De uma coisa eu lembro, pelo menos meu corpo lembra-se perfeitamente: sexo! Foi só pensar na médica por baixo do avental que minha mente clareou. Eu sabia! Alguém que não sei quem em um dia disse: o sexo clareia as idéias. Seja lá quem for, eu concordo, lá vem o objeto da minha cura.

- Quer conversar Sr. Tomás?

- (poderia ser sem roupa?).

- Meu nome é Tomás?

- Você não se lembra do que aconteceu?

Algo dentro de mim sabia que teria que tomar cuidado ou não sairia dali tão cedo. Respondi:

- Sei que aqui é um hospital e que aqueles ali são meus familiares.

Para cada pergunta que ela me fazia minha mente gerava 20 ou mais respostas. Como ela é estúpida! Estudou um pouco e já quer me avaliar.

Quero amordaçá-la e possuir seu corpo com requintes de crueldade.

- Você tentou tirar sua vida, Tomás. Porque?

- Achei que você quisesse me dizer o porque!

- Estava cansado!

- Não esta mais? Como esta se sentindo agora?

Pensei: estou excitado e quero fumar.

- Porque está rindo, Tomás?

- Sei que tentei tirar minha vida, mas não lembro porque. Não lembro dessas pessoas. Estou com vontade de fumar, estou com fome. Não estou sentindo mais nada além dessas necessidades. Não estou triste, não estou com vergonha do que fiz. Nada Doutora, nada!

Acho que fui sincero demais, ela saiu com sua prancheta, e que bela bunda tem!

Veio outra mulher com os malditos copinhos com comprimidos.

- A médica disse que seu irmão foi buscar cigarro.

Tomei as drogas em copinhos e lutei contra o sono alguns minutos.

- Irmão? De uma coisa eu lembro, eu não tenho irmão.

Vencido pelas drogas dormi um sono perturbado onde encontrava muitas pessoas que choravam. Como se já não bastasse o choro dos que estavam ali. Acordei por volta do fim do dia sem noção nenhuma de por quês.

kronos
Enviado por kronos em 19/12/2016
Reeditado em 03/05/2017
Código do texto: T5857836
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