A GASTURA Parte 2

Por que nos alimentamos em grupo?

Renata era uma mulher que não gostava muito de comer em público, preferia comer sozinha, achava que repartir mesas com estranho era uma coisa... Estranha! Mas, por outro lado, ela trabalha no comercio da cidade e pontualmente as 11:00h tomava seu horário de almoço. Precisava voltar ao meio dia e meio para o segundo turno da labuta. Por esses motivos óbvios Renata sempre almoçava no restaurante popular da cidade: refeição de dois reais, totalmente servido e saboroso. Ainda assim ela detestava restaurantes (particularmente o popular) possivelmente seu emprego e sua rotina.

Renata tinha o costume de comprar a ficha, entrar no restaurante, procurar a mesa vazia, sentar e comer longe da civilização. Porém, naquele dia, algo estranho; O restaurante estava cheio, lotado. Percebeu que havia muitas pessoas guardando algumas bandeiras em um canto do restaurante, outras as levavam consigo para a mesa. Percebeu que eram pessoas que trabalhavam nas campanhas de políticos, aquelas bandeiras eram de políticos, dos mais diversos partidos e ideiais, mas ali, aquelas trabalhadores estavam lado a lado pela mesma causa: forrar o bucho.

Ela procurou por uma mesa vazia. Não encontrou. No momento que esvaziava um acento, alguém já o preenchia. Percebeu uma mesa, com alguns acentos vazios, perto de estudantes. Optou por lá. Pouco depois de sentar e dar a primeira garfada na refeição, um senhor senta a sua frente, de testa e bigode soados, sua camisa social aberta mostra seu busto totalmente encharcado. O senhor enxuga tudo com as mãos e cai esfomeado por cima do prato cheio. Renata observou a cena com a comida estacionada em sua boca, estava praticamente à frente dos dentes da frente.

Desviando o olhar enquanto come, ela apressa as mastigadas e pensa em sumir logo dali. Numas dessas olhadelas para qualquer lugar, Renata mais uma vez, sem querer, - ou motivada por força maior de uma curiosidade independente de sua vontade -, pousa os olhos no senhor a sua frente, ao mesmo tempo em que o senhor mastigava a comida praticamente de boca aberta. Ela paralisa de nojo. Naquele momento, o velho já estava com o bigodinho todo coberto de molho de carne misturado com massa de milho. Comia ferozmente. Ele enfiava varias colheradas na boca de uma vez só, uma parte da comida entrava, outra caia de volta ao prato. Nesse movimento de comida vai, comida vem, meio tomate voltou de sua boca ainda na colher, ele a empurrou com os dedos de volta, após o movimento a força foi tanta que ele fez que ia enguiar, contudo, acontece ao contrário, a comida em sua boca desceu de uma vez. Porém, aquele mesmo pedaço de tomate não desceu, ou melhor, não todo. Ficou uma grande parte dependurada entre os lábios, enquanto uma longa parte da pele do tomate estava lá dentro de sua garganta. O velho então escancarou sua boca... Renata percebia todos os pedacinhos de arroz, feijão, carne, cuscuz, legumes e verduras espalhados aleatoriamente no interior de sua boca, desde os furos dos dentes até ao fundo do céu da boca. Como se não bastasse, o velho enfiou os dedos lá dentro, fez uma pinça e puxou vagarosamente aquela pele do tomate, enquanto fazia isso, dava pequenos enguios com som de escarro, sua mão estava tão ao fundo de sua boca que estava tampando sua respiração. Coriza pelos olhos e narinas. Ao tirar aquela pela de tomate, colocou na palma da mão, deu uma olhada, gesticulou de lado, pigarreou e a jogou pra dentro da boca de novo. Depois puxou com os dedos a comida que se acumulava atrás dos dentes, percebia-se uma massa homogênea de tão mastigada, indiferente o velho chupa aquilo de seus dedos. Renata, perplexa, em um grande jato vomita toda a mesa, suas próprias roupas, o prato do velho, o material escolar dos estudantes. No vai e vem do restaurante, tudo que se pode ouvir nas outras mesas foi a grande vaia dos balançadores de bandeira – EEERRRRRUUUUU!!!

Sebastião Monte Moreno
Enviado por Sebastião Monte Moreno em 11/12/2016
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